Agência France-Presse
postado em 22/05/2012 16:47
Cannes - O britânico Ken Loach, ganhador da Palma de Ouro em 2006 com "Ventos de Liberdade", voltou a Cannes nesta terça-feira (22/5) com "The angel;s share", uma comédia sobre um jovem ex-delinquente que busca refazer sua vida depois de conhecer a arte de degustar whisky.Com "The angel;s share", que fala da dificuldade dos jovens em encontrar um lugar ao sol em uma Europa devastada pelo desemprego, Loach, de 76 anos, entrou para a história do Festival de Cannes, ao apresentar o 11; filme em competição.
O cineasta, que situa o filme na escura e chuvosa Glasgow - cujo céu acinzentado se parece com a cúpula de Cannes há dias - e nas belas colinas da Escócia, expressou em Cannes sua ira, sua dor e sua compaixão por uma geração de jovens "que foram esquecidos pela sociedade".
"A sociedade esqueceu os jovens", os excluiu "com um sistema que está destruindo nossas vidas", lamentou o cineasta, que explora, com este filme, mais uma vez, o universo dos perdedores.
No final do ano 2011, o número de jovens desempregados na Inglaterra superou a casa do milhão pela primeira vez. "E neste momento há na Europa 75 milhões de pessoas desempregadas", lembrou.
Dessa sombria realidade, contudo, o veterano diretor faz uma comédia deliciosa, que destila otimismo e prazer de viver. Seu filme é uma fábula realista sobre a juventude de hoje, vítima da crise econômica e social e também, a seu ver, de governos ruins, mas é o único, dos mais de 11 que foram exibidos até hoje na competição oficial de Cannes, que provocou gargalhadas nos espectadores.
"Contamos uma história de hoje, com honestidade, mas a realidade tem também esses momentos de comédia, humor, travessura", disse o autor dos filmes tão inesquecíveis como "Meu nome é Joe".
O filme retrata um grupo de jovens com passado delinquente e sem perspectivas, cuja vida muda quando um deles, Robbie, um jovem destinado a ser um perdedor, é condenado a uma pena de trabalho social e descobre a arte de degustar whisky.
Isso permitirá ao jovem realizar uma fraude e depois encontrar um emprego, no universo especial do whisky, por onde espera escapar de seu sórdido destino e proteger sua esposa e seu pequeno filho.
"Queríamos apresentar essa realidade de uma maneira que fizesse rir também", disse Loach, cujo filme tem o tom divertido e emotivo de seu filme anterior, "Looking for Eric" (À procura de Eric), muito longe da contundente e sombria "Route Irish" (Rota Iralndesa), que apresentou há dois anos em Cannes na competição pela Palma de Ouro.
O excelente roteiro desta comédia social é de Paul Laverty, que colaborou em numerosos filmes com Loach, entre eles "Carla;s Song" (Uma canção para Carla), que se passa na Nicarágua e na Escócia.
Robbie é interpretado por Paul Brannigan, um jovem escocês desempregado e com uma história muito parecida com a do personagem do filme. Sua vida não tinha muitas perspectivas quando Loach e Paul Laverty lhe ofereceram o papel. "Mudaram minha vida", disse o jovem em coletiva de imprensa.
Com o filme de Loach, o público e a crítica do 65; Festival de Cannes já viu praticamente a metade dos 22 filmes em disputa pelo grande prêmio, entre eles "Killing Them Softly", do australiano Andrew Dominik, em que a estrela americana e Brad Pitt interpreta um sicário que busca "matar suavemente".
Pitt, de 48 anos, com terno claro, óculos escuros, cavanhaque e sua cabeleira loira solta até os ombros, atraiu os refletores de Cannes, onde chegou sem sua noiva Angelina Jolie, que não pode ir ao balneário da Côte d;Azur francesa porque está "preparando seu novo filme".
Além de interpretar um matador de aluguel, Pitt é o produtor deste filme muito violento, que mostra um acerto de contas entre mafiosos, com a crise financeira como plano de fundo, assim como a última corrida eleitoral nos Estados Unidos, que levou Barack Obama à Casa Branca.
Esse filme é um dos quatro longas-metragens americanos na disputa pela Palma de Ouro, que será anunciada dia 27 de maio, na cerimônia de encerramento do Festival.