Se você tentou ir ao cinema nos últimos dias, deparou-se com uma proporção curiosa. A ocupação de mais da metade do circuito exibidor brasileiro com apenas dois filmes ; Os vingadores, de Joss Whedon, e Battleship ; A batalha dos mares, de Peter Berg ; minguou o cardápio de opções no país. Na esteira de sucessos comerciais como Homem de ferro 1 e 2 (2008 e 2010), Capitão América: o último vingador (2011) e Thor (2011), Os vingadores tem se mostrado um fenômeno imbatível, cuja bilheteria mundial soma US$ 417 milhões, a 10; maior de todos os tempos. Já o filme inspirado no jogo Battleship tem naufragado em números, para produção que custou US$ 200 milhões. Até agora, arrecadou US$ 215 milhões e teve uma abertura pífia nos Estados Unidos, com apenas US$ 25 milhões no primeiro fim de semana. Mesmo assim, Batalha dos mares ocupa quase 400 salas no Brasil, enquanto os Vingadores segue com mil (1,4 mil de um universo de 2,2 mil salas de todo o país).
Administrando trama que funde potencial supostamente ultrapassado dos encouraçados, frente aos modernosos contratorpedeiros empregados pela Marinha americana, Peter Berg, o diretor de Battleship, apresenta suas armas, no combate cinematográfico, por ocupação de telas. ;Gosto da mistura de humor, de respeito pelos combatentes ; cara, tenho veteranos de guerra autênticos, aos 90 anos, combatendo aliens! ; e eu tenho Rihanna, e ela faz parte do meu sabor de cinema. Meus ingredientes trazem a mistura do humor, da ação e da violência;, diz. Em mais de 25% das 2,2 mil salas, Battleship se vale do poder de atração do herói relutante ; no caso, encarado por Taylor Kitsch (John Carter). ;É um dos temas mais antigos do cinema e da literatura, acompanha autores como Joseph Conrad e diretores como George Lucas;, diz Berg.
Afetado com o gargalo representado pela concorrência predatória de Os vingadores e Battleship, o produtor (e codiretor) de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, Renato Ciasca, joga duro, ao falar dos efeitos sobre a fita dele que ainda não alcançou os 40 mil ingressos vendidos, com 30 cópias país afora. ;Dono de sala não é cineasta, é empresário: vai no lucro imediato. O preço dos ingressos alto, ao lado da entrada de megafilmes ; que já vêm pagos, desde o país de origem ;, deveria chamar a atenção do governo. Esses filmes deveriam ser sobretaxados, em prol do cinema brasileiro. Seria algo a favor da cultura, da consciência e de uma educação do público. Entretenimento puro não melhora a vida de ninguém. Falo em nome da cultura de países diversos, como França e Alemanha, não apenas dos filmes nacionais. Devíamos atentar para as obras que embutem coisas vivas dentro de cada espectador;, diz ele, no sétimo longa, criado em carreira de 25 anos.