Diversão e Arte

Paraísos artificiais discute sobre o mundo das raves e das drogas

postado em 25/05/2012 10:27
O cineasta Marcos Prado fez um mergulho em águas desconhecidas. Para escrever o roteiro do primeiro longa-metragem de ficção, Paraísos artificiais, escrito em parceria com Pablo Padilla e Cristiano Gualda, o diretor de 51 anos fez pesquisas de campo sobre os hábitos do público de raves e o uso de drogas sintéticas, como o ecstasy. Durante cinco anos, Prado frequentou festas eletrônicas no Brasil e no exterior, entrevistou usuários e reuniu dados científicos sobre as substâncias proibidas. Em duas semanas de exibição, o filme já ultrapassou a marca de R$ 1,5 milhão de bilheteria.

Prado encontro os chamados "clubbers", jovens bem nascidos, realizados e, ainda assim, ansiosos. "As sociedades sempre fizeram uso de substâncias. Isso é reflexo da sociedade, de como ela se organiza. As drogas sintéticas refletem como esses jovens, habitantes de um mundo descartável e imediatista, sofrem. É uma busca por uma identidade muito mais difícil do que foi na minha geração. Hoje, existem mais opções, mais escolhas causam ansiedade", conclui o realizador.

Filme é focado na figura de jovens frequentadores de raves: roteiro examina as consequências do uso de drogas sintéticas

Paraísos é focado na figura de três jovens frequentadores de festas eletrônicas: Érika (Nathalia Dill), Nando (Luca Bianchi) e Lara (Lívia de Bueno). Migrando entre três tempos diferentes, vividos em três geografias distintas (Rio de Janeiro, Pernambuco e Amsterdã, capital da Holanda), o roteiro examina as consequências do uso de drogas sintéticas. Diretor do premiado documentário Estamira, biografia de uma catadora de lixo do aterro sanitário de Gramacho (RJ), Prado é sócio do cineasta José Padilha na Zazen Filmes há 15 anos. O parceiro dirigiu os dois filmes da série Tropa de elite, campeões de bilheteria do cinema brasileiro. A experiência de lançamento de Tropa serviu como base para dimensionar a distribuição de Paraísos artificiais.

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TRÊS PERGUNTAS// Marcos Prado

Como encontrar o equilíbrio e não fazer moralismo ou apologia em um filme sobre drogas?
Acho que as escolhas determinam a nossa realidade. Os eventos que decorrem das escolhas são muito importantes. As pessoas que usam drogas em excesso podem se dar mal, mas nem todas. Eu e o (José Padilha) somos sócios da Zazen há 15 anos. Nós fazemos os nossos filmes e deixamos a discussão acontecer. A gente pesquisa profundamente, mostras as questões, os lados e os experts vão para a mesa discutir ou para a política tratar as questões com menos hipocrisia. Podem chegar a uma conclusão ou chegar a nada. Mas, a gente tenta.

A produtora Zazen está acostumada a produzir sucessos de público (Tropa de elite 1 e 2). Quais as expectativas de Paraísos?
No caso do Tropa 1, a pirataria minou o filme. A gente lançou o Tropa 2 com 700 cópias porque numa sequência existe um risco menor. Existe aquele patamar do 1 milhão de espectadores e da fama que ele traz. É uma besteira isso. Um filme não é a sua bilheteria. É apenas uma forma de motivar a indústria, de servir de exemplo. O Paraísos é um primeiro filme de diretor e gera expectativas modestas. A gente espera que com 250 cópias alcancemos um público de 800 mil a 1 milhão. A gente acha que tem público para isso. Fizemos estudos, não estamos ao deus-dará. Mas, é uma matemática difícil e nem sempre se acerta. Não é um filme de nicho, trata de amor e relacionamentos familiares e amorosos com o pano de fundo das festas e jovens. É um filme universal.

Que filmes você usou como referência?
Eu pesquisei muito. Assisti muitos filmes. Vi o alemão Berlin calling (2008), de Hannes Stohr e Réquiem para um sonho, de Darren Aronofsky. No Brasil, existem filmes sérios que discutem a questão das drogas como o documentário Cortina de fumaça (Rodrigo Mc Niven). Não me lembro de nenhuma ficção nessa linha. Acho que é um filme único no Brasil. Acredito que tenha feito uma coisa original.

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