Agência France-Presse
postado em 26/05/2012 11:02
Cannes - Um filme sobre o primeiro amor às margens do rio Mississippi, "Mud", do americano Jeff Nichols, de 33 anos, conseguiu arrancar finalmente aplausos unânimes neste sábado (26/5) no Festival de Cannes, um dia antes do anúncio da Palma de Ouro.A sombra do grande escritor Mark Twain e de seus heróis, Tom Sawyer e Huckleberry Finn, aparecem sobre o belo filme, que mostra o encontro de um homem misterioso, "Mud" (em excelente performance de Matthew McConnaughey), com dois adolescentes de 14 anos, Ellis e Neckbone, em uma ilha do grande rio Mississippi.
O filme de Nichols é repleto de mitos e personagens de dimensão lendária, como "Mud", que vive em uma barca, Sam Shepard, na pele de um atirador de elite, e Reese Witherspoon, o primeiro e eterno amor do protagonista. "É um filme sobre o amor romântico, incondicional, mas visto pelos olhos de um menino, Ellis, que precisa desesperadamente entender e acreditar no amor", explicou na entrevista coletiva Nichols, o diretor mais jovem na disputa pela Palma de Ouro no 65; Festival de Cannes.
Ellis (Tye Sheridan) está buscando "uma versão do amor que funcione, porque os adultos que o cercam estão fazendo isto de maneira ruim", destacou o cineasta, que ficou conhecido ano passado com "O Abrigo", que conquistou o prêmio da Semana da Crítica, a mostra paralela mais antiga do festival.
O filme se passa na região em que Nichols nasceu e cresceu, o sul dos Estados Unidos, que o diretor filma de maneira tão romântica quanto a própria história, captando o som dos insetos, o ruído das aves ao voar e o lento correr do mítico rio, que marca todo o longa-metragem. "Filmar o rio Mississippi me permitiu, como a Mark Twain, sentir toda sua vitalidade. O rio marcou profundamente todo o filme, ele é como o centro de toda a história", afirmou Nichols, antes de ressaltar a inspiração e a influência de Mark Twain no filme.
O sul dos Estados Unidos também é a região na qual foram criados Matthew McConnaughey e Reese Witherspoon, vencedora do Oscar de 2006 por "Johnny e June". "Eu cresci no Tennessee e, quando li o roteiro, senti que falava da minha casa, o sul, de uma maneira verídica, como poucos filmes já fizeram", disse a estrela, que não tem um papel de protagonista.
"Precisava de uma atriz que pudesse tornar crível este amor sem limites que inspira ao personagem. Mud passa o dia todo falando dela, assim tinha que ser alguém especial", explicou o diretor, que nasceu em Little Rock, Alabama.
Os adolescentes do filme, Tye Sheridan e Jacob Lofland, também nasceram nesta região do sul dos Estados Unidos, repleta de histórias fascinantes e míticas. Eles são responsáveis por boa parte do filme. "Neckbone sou eu", disse Lofland.
Nichols e toda a equipe do filme tiveram uma das recepções mais favoráveis da imprensa. O filme foi o último dos 22 longas-metragens na disputa pela Palma de Ouro a ser exibido. O americano tem grandes chances de conquistar o principal prêmio, depois de 12 dias de muitas mortes, sexo, sangue e violência em Cannes, com poucos sorrisos.
"Ainda estou buscando meu próprio estilo", afirmou o diretor, que disputa a Palma de Ouro contra obras de cineastas veteranos como o austríaco Michael Haneke, o iraniano Abbas Kiarostami, o brasileiro Walter Salles, o romeno Christian Mungiu e o canadense David Cronenberg.
O jovem diretor já é considerado um artista com uma visão muito pessoal do cinema. Seu primeiro filme, "O Abrigo", um thriller apocalíptico, mostra a vida tranquila de Curtis LaForche (Michael Shannon) com a mulher, Samantha (Jessica Chastain), e a filha até o dia que ele passa a sofrer com pesadelos violentos, dominados pela ameaça de um tornado e outras visões terríveis. Ele decide então construir um abrigo subterrâneo para salvar a família e entra em um processo deterioração psicológica que afeta radicalmente a vida de sua família.