Preta Gil estava no meio de um show, no último sábado, em Brasília, quando uma menina da plateia tentou arrancar um beijo da cantora. Preta foi categórica: ;Olha amiga, eu já me aposentei desse negócio de ser sapatão. Beijo, agora, só no meu marido;. Apesar de delimitar seu espaço, a filha de Gilberto Gil veste com todo orgulho as cores da luta contra a homofobia. ;Se tem uma coisa que me tira do sério, chama-se preconceito. Eu sou uma mulher a favor da inclusão, da liberdade. Preconceito não combina comigo nem com o meu público;, declara.
Pouco antes, com cílios postiços longuíssimos e um vestido arrasador com estampa de animais, Preta se preparava para entrar no palco do Espaço Multiuso de Música e Arte (EMMA) quando falou com o Correio. Ela esteve na cidade para apresentar pela décima vez a Noite Preta, festa na qual reúne um público bem eclético e faz muito sucesso, principalmente entre os jovens.
É na Noite Preta que a cantora mostra sua irreverência em estado mais puro. Fala o que quer, quando quer, e não tem meias palavras. Mas, ao mesmo tempo que diverte, usa essa liberdade para reafirmar sua posição contra a intolerância. Um dos momentos em que mostrou a língua afiada foi durante um show em Brasília, em agosto do ano passado. Do palco, Preta viu um homem destratar uma mulher por causa da opção sexual dela. Diante da cena de preconceito explícito, a artista não deixou barato: parou a apresentação e fez um aguerrido discurso contra a homofobia.
;Eu me envolvo até demais nessas questões. E quando eu vejo situações como essa acontecerem ; e não é tão incomum ;, não consigo ficar quieta;, explicou, relembrando o episódio. ;Às vezes, me perguntam se eu não tenho medo, mas não tenho, não;, emendou Preta, que abraça a causa o tempo todo no Twitter, em entrevistas e nos shows. Atitude que fez dela uma autêntica musa gay.
Outra beleza
Mas a bandeira a favor da igualdade e pelo fim do preconceito vai além da questão de gênero. Com 1,60m de altura e 84kg distribuídos em um corpo violão, Preta Gil já fez muita dieta para se manter no padrão midiático de mulher bonita. Para alcançar essa ;beleza;, tomou remédios, fez lipoescultura e dietas mirabolantes. Mas, hoje, respeita as limitações do próprio corpo e luta para que as mulheres não sejam reféns desse padrão.
O ;orgulho GG; que Preta passou a estampar nos últimos anos encorajou muitas mulheres a assumirem os quilinhos a mais. O estilo de se vestir da cantora rendeu um convite para estampar a nova coleção da C, Special For You, que chegará às lojas em julho. Com roupas que abrangem do manequim 46 ao 56, as roupas serão todas inspiradas no estilo de Preta. ;Fizeram uma pesquisa detalhada com tudo o que eu uso. São roupas superfashion e bem bonitas. Eu sei como é difícil encontrar uma roupa num tamanho maior, a gente sofre bastante. Quero ajudar nessa democratização da moda;, explicou.
Depois de polemizar com o CD Preta à porter (2003) em que aparece nua no encarte, o desejo de Preta Gil hoje é chamar a atenção do país de uma outra forma, com sua música e ações favoráveis ao fim do preconceito de uma forma geral. A carreira vai ganhar uma guinada em julho, com o lançamento do álbum Sou como sou, que só pelo título já reforça essa nova posição de Preta, mais confiante e madura em relação às suas escolhas.
O disco nem chegou às lojas e os seguidores da cantora já tuitaram a hashtag #SoucomoSou no Twitter. O grande número de tuites atingiu, semana passada, a posição de assunto mais comentado na rede social. Sou como sou terá músicas do pai, Gilberto Gil, e do filho, Francisco. Praga, de Gil, fala sobre os constantes ataques à filha na internet: ;Que a tua boca suja na internet/Não me alfinete ou canivete nunca mais/Estou pedindo a Deus no meu tablete/Que delete seus ataques virtuais;.
Empolgação sem restrição
A Noite Preta de sábado, no E.M.M.A, foi bem marcante. O público estava mais empolgado do que de costume e não parou de pedir para subir ao palco o tempo todo. Alguns desavisados não foram lá muito educados e Preta deu uma alfinetada bem- humorada: ;A gente tem que cantar, divertir o público e ainda tem que educar as pessoas, né?;, disse, levando o público às gargalhadas. Com cerca de duas horas, o show teve axé, samba, forró e de tudo um pouco. ;Canto o que eu gosto e o que ouço desde pequena. Não tenho nenhuma restrição musical;, falou ao Correio.
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