Diversão e Arte

Em 40 anos, Paul flertou com diversos estilos sem perder a identidade

postado em 18/06/2012 16:31

Quem se dispuser a ouvir a toda a produção solo de Paul McCartney vai se deparar com 22 discos de estúdio, oito ao vivo e três coletâneas. Isso se desconsiderados os cinco álbuns de música erudita, as participações em trilhas sonoras e os projetos colaborativos feitos pelo cantor. Apontar seus discos menos interessantes é fácil, até porque não são muitos (evite Press to play, de 1986). Quantos aos melhores, cada fã tem o seu preferido ; escolha baseada em critérios musicais ou puramente afetivos. No entanto, 42 anos depois de McCartney, o primeiro trabalho dele após o término dos Beatles (lançado no mesmo mês do anúncio oficial do fim da banda, em abril de 1970), existe um consenso sobre as obras fundamentais de Sir Paul.

Ao longo de quatro décadas, o britânico flertou com diversos estilos musicais (reggae, black music, música sinfônica, eletrônica etc.), sempre mantendo a marca autoral e se renovando sem, necessariamente, se reinventar ; motivo tanto para críticas (muitos o acusam de se repetir constantemente) como para elogios. Olhando em retrospecto, a fórmula McCartney passou no teste do tempo e continua como inspiração para incontáveis artistas e, mais ainda, nas mãos do próprio cantor, como provam seus bem-sucedidos trabalhos mais recentes.

Discos irmãos, McCartney e Ram (1971) refletem o estado de espírito do músico naquele começo de década. A vida familiar, a casa no campo, o amor pela esposa, Linda, e pelas filhas pequenas inspiraram as canções ; tanto que o tom da maioria delas, especialmente na estreia, é tranquilo, com músicas ao violão. Ambos os LPs foram gravados no estúdio caseiro do cantor, que toca praticamente todos os instrumentos em todas as faixas.

Do álbum de 1970, sobressaem That would be something, Every night, Teddy boy (composta na época dos Beatles) e Maybe I;m amazed, uma rasgada declaração de amor. Ram, para muitos fãs o melhor de Paul, é um trabalho mais roqueiro e consistente que o anterior. Estão nele as baladas Uncle Albert/ Admiral Halsey, Heart of the country, Back seat of my car e o rock Too many people (alfinetada direcionada a John Lennon). O segundo disco de Paul foi lançado recentemente em edição luxuosa, com quatro CDs, um DVD e gordo encarte.

A fase Wings

De 1971 até 1979, o cantor gravou acompanhado de sua nova banda, os Wings, cujo núcleo era o trio Paul, Linda McCartney (teclados e vocais de apoio) e Denny Laine (guitarra). A discografia dos ;Asas; tem um título excepcional, Band on the run. Lançado em 1975, é um dos mais coesos, ambiciosos e bem realizados do cantor. Estão nele as ótimas Jet, Bluebird, Let me roll it, Helen wheels e a faixa-título.

Com o fim dos Wings, Paul volta a assinar discos com o próprio nome. McCartney II (da dançante Coming up) foi lançado em 1980, seguido por Tug of war (1982), o mais focado da década, de onde saiu o hit Ebony and ivory (dueto com Stevie Wonder). Apesar dos sucessos que foram aparecendo nos álbuns seguintes (a exemplo de Pipes of peace, Say, say, say e No more lonely nights), a década de 1980 não foi das melhores ; criativamente falando ; para Paul. Ele só reconquistou de vez seu moral com os fãs mais exigentes com Flaming pie, de 1997, produzido de forma mais descontraída (com muitas músicas só na voz e violão), resultando em canções mais imediatas e divertidas. O cantor fechou a década de 1990 com um CD de covers, o energético Run, devil, run, uma homenagem a seus ídolos do rock dos anos 1950.


Macca chegou ao século 21 com o prestigio renovado, apoiado na trinca Driving rain (2001), Chaos and creation in the backyard (2005) e Memory almost full (2007) ; trabalhos que representam um renascimento do cantor para os novos tempos, reforçando a importância do autor décadas depois de suas primeiras gravações. Seu álbum mais recente, Kisses on the bottom, foi lançado em fevereiro, e é formado basicamente de versões de jazz pop.

Dos últimos discos, Chaos and creation in the backyard teve a melhor repercussão. Nele, o cantor trabalhou com o produtor Nigel Godrich, famoso pela parceria com a banda Radiohead, resultando em um disco vigoroso, de poderosas canções (sobre dúvidas, angústias e algumas alegrias), soando ao mesmo tempo contemporâneo e atemporal ; ou seja, a cara de Paul McCartney.

; Cinco discos recomendados

Ram (1971)




Band on the run (1975)



Tug of war (1982)





Flaming pie (1997)





Chaos and creation in the backyard (2005)



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