O monólogo Estamira ; A beira do mundo deu início ao Cena Contemporânea com uma mescla de riso e choro. Quando a atriz fluminense Dani Barros encerrou o espetáculo, às 21h50, e as luzes do Teatro Eva Herz (Livraria Cultura) acenderam, boa parte da platéia tinha lágrimas nos olhos. O palco, a atriz encarna uma senhora com problemas psiquiátricos que trabalho no lixão do Jardim Gramacho, o maior aterro sanitário da América Latina. A história é real e foi transformada no documentário Estamira em 2005 por Marcos Prado.
Apesar dos delírios que a levaram várias vezes ao hospital psiquiátrico, Estamira impressiona pela clareza e lógica dos pensamentos. ;Ela é de uma lucidez incrível. E a atriz conseguiu entrar na pele da personagem;, reparou a bancária Odete Gontijo, 62 anos. ;Me impressionou muito. Mesmo com o problema psiquiátrico, ela tem uma lógica;, constatou a bancária Mercedes Miranda, 53, que não conseguiu conter as lágrimas.
A simplicidade é marca do espetáculo. Sozinha no palco, Dani Barros mistura trechos retirados do filme de Marcos Prado, que inspirou a peça, e mistura com textos e poemas de Nuno Ramos, Ana Cristina César e Manoel de Barros. A atriz acrescentou também parte de suas próprias memórias. A mãe sofria de depressão e Dani conhece bem a realidade dos hospitais psiquiátricos pelos quais Estamira também passou.
Ao final da peça, a atriz contou que conheceu a personagem e que ficou muito tocada com seu discurso. Estamira pretendia revelar a verdade e desmascarar a mentira e a hipocrisia do mundo. ;Faz quase um ano que ela morreu;, disse Dani à platéia. A atriz também pediu que Estamira iluminasse Brasília e seus políticos e acabasse com os ;torcadilo;, palavra usada com freqüência pela personagem para se referir aos mentirosos e bandidos.