postado em 22/07/2012 13:26
Sucesso entre o público feminino quando interpretou Ronaldo Bôscoli na minissérie Maysa ; Quando fala o coração (Globo, 2009), Mateus Solano vem se mostrando um ator múltiplo. E tem passado nos testes mais difíceis. Naquele mesmo ano, por exemplo, na novela Viver a vida, encarou a missão de viver irmãos gêmeos, desafio que não raramente queima o filme do protagonista. Mostrou um desempenho acima da média. Já no ano passado, interpretou um tipo meio ingênuo, o Ícaro de Morde e assopra, e novamente saiu-se bem. Agora, dando vida ao Mundinho Falcão de Gabriela, protagoniza uma história que promete marcar época, como o amor proibido de Jerusa (Luiza Valdetaro).;Vou a fundo na humanização de meus personagens;, resume o ator brasiliense de 31 anos, criado no Rio de Janeiro. ;Mundinho é um galã diferente. Ele não vive apenas uma linda e desencontrada história ao lado de Jerusa (Luiza Valdetaro). Ele tem convicções políticas e promove profundas transformações sociais em Ilhéus. É um mocinho ousado e até petulante.; Ligado em atividades teatrais desde criança, ele ganhou experiência com espetáculos infantis e formou-se em artes cênicas pelas Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Antes da estreia na minissérie da Globo, dedicou-se aos palcos. ;Acho que foi bom ter acontecido dessa forma. Encontrei na tevê uma outra plataforma de trabalho e não o deslumbre com a fama;, avalia. Veja um pouco mais de vida e obra do ator, por ele mesmo.
Depois de pequenas participações na tevê, como em JK, de 2006, você vem acumulando papéis de destaque a partir de Maysa ; Quando fala o coração, exibida em 2009. O crescimento de seus personagens mudou sua relação com a televisão?
Não ligo muito para o tamanho dos meus papéis nas tramas. Acho que, simplesmente, depois de muito tempo de dedicação ao teatro, resolvi fazer tevê com mais afinco. Antes eu não conseguiria conciliar minha rotina e me comprometer com uma novela, pois ainda tinha muito a fazer no teatro, tinha ânsia de estar no palco. Por exemplo, assim que terminei JK, tive a chance de entrar em uma novela e não aceitei porque queria fazer o espetáculo O perfeito cozinheiro das almas deste mundo, em 2007.
E quando sentiu vontade de fazer tevê?
Em 2008, eu estava disposto a tentar. Por isso, coloquei meu vídeo no banco de dados da Globo. Mas de nada adiantou (risos). Tempos depois, estava em temporada com uma peça, e ao fim do espetáculo, um produtor da emissora veio falar comigo. Até disse que tinha meu vídeo cadastrado no site da empresa, mas ele não tinha visto. De uma forma especial, meus primeiros papéis interessantes na tevê foram motivados pelo meu desempenho nos palcos. Me orgulho disso. Hoje meu negócio é atuar, não importa onde.
Gabriela é o quarto trabalho consecutivo no qual você interpreta um dos personagens principais da trama. Coincidentemente, todos esses papéis foram de galãs. O rótulo incomoda?
Eu faço o maior esforço para não me repetir. Posso ter feito apenas galãs, mas acho que eles são bem diferentes entre si. Por exemplo, do Ícaro, de Morde e assopra (2011) para o Mundinho, existe um vácuo enorme. O primeiro tinha tintas filosóficas e estava inserido em um contexto de ficção científica. Era aficionado por robôs e até chegou a construir uma androide. Atualmente, meu personagem tem dois pontos interessantes que me instigam muito: a política e um amor shakespeariano com tempero tropical. São dois galãs? Sim. Mas, antes de tudo, são bons personagens. Eu tentei buscar personagens mais diversos, mas na tevê isso é complicado.
Por quê?
O ator funciona por convites. O processo de escalação de uma trama pertence mesmo aos autores, diretores e produtores de elenco. Tenho de respeitar meu contrato com a emissora e dançar conforme a música. Uma hora, você tem boas surpresas, como foi em Viver a vida (2009). Interpretar os gêmeos me fez aprender muito de tevê. O fato de ter trabalho em dobro foi desgastante, ao mesmo tempo em que tive uma experiência profissional intensa. Vi que tinha de começar do zero, que os meus 13 anos dedicados ao teatro seriam apenas referência. Um novo ator, específico para a tevê, tinha de emergir.
Apesar de confusa, Morde e assopra foi bem na audiência. Você ficou satisfeito com o resultado final deste trabalho?
Desde o início, estranhei muito o personagem. Não conseguia acreditar nele. Era a primeira vez que eu estava trabalhando com o Walcyr Carrasco (autor que também assina o remake de Gabriela) , mas, mesmo inseguro com o papel, embarquei na viagem. Estudei as emoções, li muito sobre robótica, fui gravar no Japão. Aos poucos, encontrei a motivação que aquele trabalho merecia. A novela sofreu algumas alterações, e, apesar de ganhar uma dose extra de sensibilidade, meu personagem foi bem fiel ao que estava na sinopse. Por fim, acho que, pelo horário e pela abordagem, esse trabalho me apresentou ao público infantil. A resposta foi boa.
O que o Mundinho Falcão pode agregar à sua trajetória?
Não tenho como prever, mas já agregou ao meu lado pessoal. Eu nunca tinha lido Jorge Amado com atenção, mas quando surgiu a possibilidade de fazer o papel, mergulhei nos livros dele, em especial Gabriela, cravo e canela, de 1958, e Cacau, de 1933. Foi uma descoberta. Existem grandes histórias por trás do amor entre a Gabriela e o Nacib. A do Mundinho é a mais politizada, lida com o progresso em uma Ilhéus dominada por coronéis. Mexe com a tradição e com os conceitos num momento em que o mundo inteiro está em transição.
Seu personagem é citado desde o início da trama, mas só apareceu na terceira semana. Você chegou a gravar alguma cena em Ilhéus ou limitou-se aos estúdios da Globo?
Infelizmente, gravei apenas duas cenas na cidade. Mas foram cenas importantes: a da procissão e o retorno dele à cidade. Mas tomado pela empolgação de ler o livro, viajei para Ilhéus e fiquei duas semanas lá. Observando, sentindo o clima e me inspirando.
Na novela de 1975, Mundinho foi interpretado por José Wilker, que nesta nova versão dá vida ao coronel Jesuíno. Vocês chegaram a conversar sobre o papel?
Bem pouco. Trocamos experiências sobre as duas versões.