Chega ao fim a maratona da primeira edição do Brasília International Film Festival (Biff). Hoje, em cerimônia marcada para as 21h, será realizada a entrega dos prêmios da mostra. A única baixa do evento cinematográfico foi registrada antes do cruzamento da linha de chegada. Até o fechamento desta edição, o atraso na chegada da cópia em película de O planeta solitário, de Júlia Loktev, havia obrigado a retirada do título da competição. Portanto, foram consideradas 11 produções concorrentes nas categorias melhor filme, direção, roteiro, atriz e ator (US$ 50 mil em prêmios serão distribuídos). ;Não poderíamos manter o filme na competitiva porque ele não foi exibido em condições iguais às dos concorrentes;, comparou Nilson Rodrigues, diretor-geral do Biff.
Ao longo dos nove dias de festival, foram exibidos 49 títulos, divididos em cinco mostras paralelas, uma retrospectiva (Anna Karina) e uma competitiva. Propositadamente, a seleção não continha nenhum realizador conhecido do grande público ou de cinéfilos persistentes. ;Quem analisar a programação pode perceber que trouxemos filmes novos, diretores novos e muitos títulos sem distribuição no Brasil. São filmes que o público não teria a chance de assistir se não fosse o Biff. A intenção é fazer com que os espectadores descubram com a gente novos talentos, formas de produção e maneiras de contar histórias;, apontou a diretora de programação do Biff, Anna Karina de Carvalho.
Os destaques
Veja quais são os favoritos do Correio nas categorias que envolvem a mostra competitiva. Note que não se trata de um quadro de apostas ou eleitos, e sim de uma compilação do que mais agradou e surpreendeu a nossa equipe de cobertura.
Melhor filme
Algumas das melhores composições vieram de filmes de estreia e de um latino-americano que representa uma das cinematografias contemporâneas mais interessantes. Ausência registra atmosfera sutil e sempre dúbia de drama e suspense, enquanto La playa D.C. enquadra as ruas de Bogotá com urgência e esperança. No chileno O ano do tigre, produzido pelo incensado Pablo Larraín, o caos do terremoto de 2010 serve de pano de fundo para observações sobre religião e deslocamento social.
Ausência (EUA), de Mark Jackson O ano do tigre (Chile), de Sebastián Lelio La playa D.C. (Colômbia/França/Brasil), de Juan Andrés Arango
Melhor direção
Diferentes em seus propósitos de cinema, Lelio, Jackson e Gomis impressionaram pela personalidade com que demarcaram estilo em seus títulos. Lelio filma de um jeito cru, quase documental. Jackson roda um clima de isolamento e tédio desatando nós dramáticos e, pouco a pouco, estabelecendo tonalidades sombrias à história. Gomis, ao retratar uma África pessoal, investe em passeio existencial, em que a câmera ocupa lugar de intimidade.
Sebastián Lelio (O ano do tigre) Mark Jackson (Ausência) Alain Gomis (Tey)
Melhor atriz
Victoria Abril marcou presença em A mulher que escovou suas lágrimas com atuação nervosa, que evidencia recursos de uma grande intérprete: angústia que recusa lágrimas fáceis. Outras grandes performances revelam talentos até então pouco conhecidos, como Joslyn Jensen e Maisa Abd Elhadi, que nem é atriz profissional.
Joslyn Jensen (Ausência) Victoria Abril (A mulher que escovou suas lágrimas) Maisa Abd Elhadi (Habibi)
Melhor ator
Encarnando homens vagando num mundo árido, pós-apocalíptico, Luis Dubó e Sergio Hernández são o coração de O ano do tigre. Ambos entregaram cenas viscerais, que têm muito a dizer sobre os abalos que racharam e derrubaram casas e vidas no Chile há dois anos. Em outro continente, o americano Saul Williams transforma Tey num grandioso e catártico tour de force.
Luis Dubó (O ano do tigre) Sergio Hernández (O ano do tigre) Saul Williams (Tey)
Melhor roteiro
Em comum, isolamento, desordem e investigações sobre a alma inspiram bons scripts de filmes vindos de Chile (O ano do tigre), Colômbia (La playa D.C.) e Senegal (Tey). Arango e Gomis, que dirigem seus próprios textos, elaboram confrontos entre urbanidade e individualidade. Gonzalo Maza, autor de O ano do tigre, também descreve um personagem em contato com sua nação ; no caso, um país que veio abaixo com as fortes trepidações de 2010.
Gonzalo Maza (O ano do tigre) Juan Andrés Arango (La playa D.C.) Alain Gomis (Tey)