Nahima Maciel
postado em 27/07/2012 22:48
A dança cheia de simbolismos do beninense Koffi Kôkô e as referências à corporalidade dos rituais religiosos africanos m isturadas às técnicas contemporâneas fez a plateia refletir na estreia de La beauté du diable. Em cartaz até domingo na Sala Martins Pena como parte da programação do Cena Contemporânea, o espetáculo de 50 minutos é denso, tenso e delicado.No palco, o coreógrafo e dançarino ; que também é sacerdote vodu ; encena uma possível conversa de um mensageiro com Deus e o diabo. Mas tudo é muito sutil e não há obviedades na constução de Kôkô. O cenário não poderia ser mais simples: apenas um goungoun, uma representação de um ancestral, espécie de ponte para o mensageiro conseguir contactar os ancestrais, e três percussionistas responsáveis por toda a música, sonoplastia e ritmo da peça.
Para a estudante Bárbara Cabral, 21, a beleza estética de La beauté du diable é o que mais sobressai. "É um trabalho de corpo enorme e muito aberto. Trata do bem e do mal sem fazer uma leitura maniqueísta", analisa. Nas religiões africanas, as ideias de bem e mal não remetem a opostos, por isso é possível encarar o mensageiro interpretado por Kôkô como um homem completo graças a suas próprias contradições. E na versão do artista, elas se complementam.
Lambuzado de farinha, ele assume ora a postura diabólica, ora a divina, e trata de fazer com que as duas dialoguem e entrem em sintonia corporal. "O conceito de Deus e diabo para os africanos é diferente do conceito cristão, não é dicotômico, se complementa", explica o cineasta Renato Barbieri, diretor de Atlântico negro, documentário sobre as migrações entre o Bénim e o Brasil durante a escravidão. Barbieri está familiarizado com a dança e os ritos religiosos do Bénim que guiaram Kôkô, mas confessa que encontrou no espetáculo algo diferente. "O que vi é novo, é mágico. Nunca vi uma expressão coporal tão sofisticada."