Agência France-Presse
postado em 01/08/2012 09:35
Los Angeles - O escritor Gore Vidal, um dos gigantes da geração de autores americanos que inclui Norman Mailer e Truman Capote, morreu nessa terça-feira (31/7) aos 86 anos.
Burr Stevens, sobrinho do escritor, afirmou ao jornal Los Angeles Times que Vidal faleceu de complicações de uma pneumonia em sua residência nas colinas de Hollywood. Vidal, um iconoclasta narrador da vida americana e autor de obras como Criação, Lincoln e Myra Breckenridge, também ficou famoso por sua intensa vida social, ativismo político e agitada vida sentimental. Ele escreveu 25 romances, ensaios e peças que fizeram sucesso na Broadway, além de roteiros para cinema e televisão.
Gore Vidal, que tinha uma visão mordaz da política em suas obras, tentou várias vezes, sem sucesso, ser eleito para cargos políticos. Gostava dos debates polêmicos na TV e apareceu no filme Roma, de Federico Fellini. "Ao fim de sua vida, Vidal era uma figura imponente que acreditava ser o último de uma raça, e possivelmente estava certo", escreve o jornal New York Times em seu obituário. Seu terceiro romance, A Cidade e o Pilar, abordou sem subterfúgios o homossexualismo, decisão que escandalizou os críticos quando foi publicado em 1948, mas que abriu um novo terreno na literatura americana. Abertamente bissexual, Vidal retornou ao tema da identidade sexual 20 anos mais tarde, com a sátira Myra Breckenridge.
Alguns de seus livros abordam temas políticos ou a história dos Estados Unidos, traçando o que Vidal chamou de surgimento do império americano, como Burr (1973), 1876 (1976), Lincoln (1984), Império (1987), Hollywood (1990), e A Era Dourada (2000). Entre suas sátiras se destacam Kalki (1978), Duluth (1983) e Live from Golgotha: the Gospel according to Gore Vidal (1992). Suas opiniões políticas também provocavam enormes controvérsias, como uma discussão com insultos com o colunista conservador William Buckley diante das câmeras de TV.
Em outro episódio famoso, Vidal afirmava que Norman Mailer havia dado uma cabeçada em seu rosto ao fim de uma discussão antes de um programa de televisão. Filho de um oficial do Exército, Vidal nasceu em 3 de outubro de 1925 na Academia Militar de West Point, dentro de uma família com excelentes contatos no mundo da política. Seu pai, Eugene Vidal, foi o amor da vida da pioneira da aviação Amelia Earhart, desaparecida no Pacífico há 75 anos enquanto tentava dar a volta ao mundo. Divorciada de Eugene Vidal, sua mãe se casou mais tarde com Hugh Auchincloss, que, posteriormente, se converteria no padrasto de Jacqueline Kennedy.
O escritor foi apresentado à vida política enquanto crescia em Washington, onde seu avô, o senador por Oklahoma Thomas Gore, às vezes permitia que ele o acompanhasse ao trabalho. Seu fascínio pela política foi evidenciado em 1967 no livro Washington DC, que conta a história de uma família de políticos. Depois de cumprir o serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial, Vidal conheceu cedo o sucesso comercial como romancista, e logo somou entre seus amigos escritores como Anais Nin, Tennessee Williams e Christopher Isherwood. Mas o amor de sua vida foi o atleta Jimmy Trimble, confessou Vidal anos mais tarde. Trimble foi morto numa batalha em Iwo Jima, e Vidal dedicou a ele A Cidade e o Pilar.
Vidal conviveu por 53 anos com Howard Austen, um publicitário. Ele também fez sucesso no teatro, cinema e televisão, escrevendo roteiros para peças da Broadway (Visita a um Planeta Pequeno) e filmes como Ben Hur (1959), Paris está em chamas? (1966) e Calígula (1979). Ben Hur ficou conhecido como o filme em que Vidal foi forçado a amenizar o contexto homossexual da trama porque o diretor William Wyler sabia que o ator protagonista, Charlton Heston, jamais aceitaria participar numa obra com essa temática.
Apesar do rico trabalho literário, jamais perdeu de vista a política. Vidal disputou uma cadeira no Congresso em 1960 pelo distrito de Nova York, pelo Partido Democrata, mas não teve sucesso. Em 1982 fez campanha contra o governo de Jerry Brown nas primárias democratas na Califórnia. Nos últimos anos, suas opiniões políticas ficaram ainda mais radicais. Vidal foi particularmente ácido com o governo do presidente George W. Bush, a quem chamou uma vez de "homem mais estúpido dos Estados Unidos".