Diversão e Arte

Poetas populares ainda carecem de oportunidades, afirma Jessie Quirino

José Carlos Vieira, Caroline Maria
postado em 12/08/2012 13:11

O poeta paraibano Jessier Quirino tem na sua arte um trabalho de missionário: desaboletar o Nordeste e estampá-lo com orgulho nos principais palcos do Brasil. Nascido em Campina Grande, em 1954, formou-se arquiteto para depois criar obras com as palavras. De linguagem maleável, constrói na imaginação do leitor/ouvinte uma ponte com as raízes da matutice poética, quase todas já enterradas no passado. Pelo "jeito jeitoso" que o poeta escreve e recita, recebe os aplausos dos principais cenários da mídia brasileira, que podem até tentar tirar Quirino da Paraíba, mas nunca a Paraíba de Quirino.

Como e quando você deixou a arquitetura e investiu na poesia e na cultura popular nordestina?

Costumo dizer que sou eu e a Torre de Pisa: sempre tive inclinação. Tem um crítico que disse assim: Jessier devia colocar na frente da casa dele: ;Faz-se arte.; Sempre fui muito de desenhar, inclusive desenho artístico e arquitetônico. Na poesia, eu sempre explorava o lado declamatório porque já falava poemas de outros poetas. É tanto que eu digo que antes do poeta, nasceu o declamador. Em 1996, lancei o primeiro livro (Paisagem de interior), pelas edições Bagaço, de Recife, que teve um tempo de maturação muito grande. Eram coisas que ia guardando e as pessoas diziam ;por que você não publica?; Achava que eu era uma casinha de duas águas literárias, que uma poesia feita com agulha ferrugenta talvez não tivesse valor. Fiz o livro e recebi uma crítica bem positiva. Acredito que foi o grito de ;lá vem o homem!”. A partir daí, deixei de dizer o poema dos outros e passei a dizer os meus.

Você disse que seu texto ganha força quando é declamado. Seria a sua uma poesia amostrada?

(Risos) Sim, mas a timidez é uma coisa que também existe comigo. O lado teatral e declamatório da minha poesia eu utilizei até como arma, sabe? No ginásio, eu não era o valente, não era o namorador, não era nem o tomador de cachaça nem o raparigueiro. Sem esses ;atributos;, a gente perde muito. Mas eu tinha aqueles versinhos com apelos de safadeza, aquela coisa toda. Falava os poemas com muita ênfase em sala de aula e juntava pequenas plateias. Percebi que, com isso, os mais velhos, os raparigueiros, os que dirigiam carro; diziam aos outros: ;Rapaz, para, para, pra gente ouvir Jessier!” Quando passei a ser respeitado por isso, passei a utilizar mais isso. Só que fora do palco, o meu lado reservado permanece.

Quem influenciou sua obra?

Sou de Campina Grande. Campina é até meio cosmopolita para o universo que eu trabalho, que é uma cidadezinha bem pequenininha, com o matuto no meio da rua. Talvez o meu interesse pelo interior seja pessoal mesmo. Sempre fui muito interessado pelas histórias. Tenho influência do rádio. Imagino e ouço uma história com muito zelo. Gosto do causo porque o causo, diferentemente da piada, tem muito de uma ;acontecença;. O cara conta um causo de um bodegueiro, de um Seu Lunga da vida, de uma briga que aconteceu. Aquelas músicas de Jackson do Pandeiro; (canta) Cabo tenório é o maior inspetor de quarteirão; Quando ouvia essas músicas, já via o lado cênico.



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