postado em 14/08/2012 19:16
A série de shows Grandes Discos da Música Brasileira, realizada desde outubro de 2010 pelo Instituto Moreira Salles (IMS) relembra nesta terça-feira (14/8), às 20h, mais um LP (disco de vinil) considerado histórico pelos estudiosos da MPB. O primeiro disco do compositor e intérprete carioca Jards Macalé, lançado em 1972, será revivido em uma apresentação do próprio artista, a partir das 20h, no auditório do IMS do Rio de Janeiro.As nove faixas que constituem o repertório do disco, uma síntese de rock e baião, abrangem as mais importantes parcerias da trajetória do compositor, como Waly Salomão, Torquato Neto e José Carlos Capinam. O LP foi gravado após Macalé retornar de Londres, onde participou, como violonista e compositor, da produção do álbum Transa, de Caetano Veloso. Intitulado Jards Macalé Canta, o disco teve participação dos músicos Tutty Moreno, na bateria, e Lanny Gordin, na guitarra, violão e baixo.
;O disco continua sendo muito emblemático, porque representa toda uma geração que naquela época estava às voltas com a Tropicália e com a quebra de paradigmas, em busca de um som mais contemporâneo na Música Popular Brasileira;, diz a coordenadora de música do IMS, Bia Paes Leme. ;Foi o primeiro LP de Macalé, autoral, ousado e onde ele literalmente fez o que quis;.
[SAIBAMAIS]Nascido em 1943, o carioca Jards Anet da Silva estudou orquestração, violão clássico, composição e análise musical, tendo como professores nomes como o maestro Guerra Peixe e o violonista Turíbio Santos. O apelido ;Macalé;, uma alusão ao pior jogador do Botafogo na época, veio da infância, em função da falta de habilidade do artista com a bola.
Nas artes, Jards Macalé atua desde os anos 60 em diversas modalidades, principalmente na música, tanto popular como erudita. Na MPB, ficou famoso ao concorrer, em 1969, no 4; Festival Internacional da Canção com Gotham City, música em parceria com Capinam que fazia crítica ao momento político vivido na época pelo país. No mesmo ano, começou a compor para a cantora Gal Costa, intérprete que eternizou a composição mais conhecida de Macalé, Vapor Barato, feita em parceria com Waly Salomão.
Com o álbum de Macalé, já são oito os LPs marcantes da era do vinil relembrados na série criada pelo IMS. Segundo Bia Paes Leme, o critério de seleção dos discos se baseia na memória afetiva da equipe encarregada do projeto: além dela, os jornalistas Flávio Pinheiro, superintendente-geral do IMS, e Paulo Roberto Pires, ambos especializados em música.
;A gente escolhe os discos conversando, lembrando de LPs e pensando em possibilidades de show, se o artista está vivo ou não;, diz. Para cada show é feito um folder no tamanho de um LP, como se fosse a capa, com textos sobre a história do disco e do artista e comentários sobre cada uma das músicas. ;Há um jornalista apresentando o show, que é um bate-papo entre o artista e o apresentador;, explica Bia, também instrumentista e arranjadora.
No caso de shows que revivem discos de artistas já falecidos, a interpretação ficou a cargo de outro cantor. Foi o que ocorreu este ano com o espetáculo que relembrou o LP lançado em 1967 por Sidney Miller, com as músicas do compositor interpretadas pela cantora Joyce. ;Abrimos a série com um disco, A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes, de 1980, que estava bastante esquecido. Depois disso, eles voltaram a fazer shows juntos e isso foi muito importante;, diz a coordenadora de música do IMS sobre a série, que segundo ela, não tem prazo para acabar.
O próximo show da série, ainda sem data marcada, vai reviver a polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista, que marcou o samba carioca na década de 30 do século passado. Caberá ao sambista Monarco defender as músicas de Noel, enquanto as de Batista ficarão a cargo de outro veterano do samba: Nelson Sargento.
Embora o embate no samba não tenha resultado em um LP protagonizado pelos dois protagonistas do duelo, a disputa foi gravada em um disco posteriormente em 1956 por Francisco Egydio e Roberto Paiva, entre outras regravações mais recentes.
A disputa musical teve início após o lançamento de Lenço no Pescoço de Wilson Batista sobre o estilo de vida do malandro carioca. Noel não gostou da forma como Wilson Batista retratou a malandragem e respondeu com Rapaz Folgado. A batalha musical resultou em clássicos como Palpite Infeliz e Feitiço da Vila, ambas de Noel, e Frankenstein Da Vila, de Wilson Batista.
Os ingressos para o show de Macalé, nesta terça-feira, já estão esgotados, mas haverá um telão para o público excedente na parte externa do Instituto Moreira Salles, localizado na Rua Marquês de São Vicente, 476, na Gávea, zona sul do Rio.