As duas mergulham nas próprias experiências para encontrar suas histórias e personagens. Também abarcam o mesmo público: adolescentes, especialmente as meninas. O universo frequentado pelas norte-americanas Cecily von Ziegesar e Alyson Noel é o mesmo do ponto de vista editorial e um pouco diferente no quesito temática.
O nome de Cecily pulou da lista de editores para a de autores da Bloomsbury (a mesma editora de Harry Potter) por acaso, quando apresentou um projeto de nova série de livros para adolescentes baseada em sua própria experiência de garota rica de Manhattan. Aconteceu em 2000, após uma reunião de brainstorming com o objetivo de encontrar uma história para uma nova série. ;Meu chefe me pediu para desenvolver a ideia em um livro e voltei com um casting de personagens. Decidi que a história se passaria em Manhattan, onde cresci;, conta a autora. ;Naquela época, todos os livros nos quais eu estava trabalhando se passavam em subúrbios imaginários de cidades imaginárias, mas eu pensei que seria mais real e interessante locar a nova série em um lugar real que eu conhecesse bem e pelo qual a maioria das pessoas é fascinada.;
Os editores gostaram e confiaram a Cecily, que nunca havia escrito um livro, a tarefa de produzir o romance. Gossip Girl rendeu 12 volumes, a série It girl , no mesmo formato, e uma nova empreitada, Os Carlyle, narrada pela garota do blog de fofocas que investiga e expõe a vida dos coleguinhas. No total, foram 350 mil exemplares vendidos só no Brasil. E já que o dinheiro não parou de entrar desde o lançamento do primeiro livro, a editora resolveu dar mais um passo. Cecily trabalha agora na produção da série de televisão. ;É divertido escrever roteiro, nunca fiz isso antes. É muito diferente ; tenho que deixar para trás todos os pensamentos dos personagens e tentar construir uma história clara, com diálogos e com cenas pensadas.;
Entrevista com Alyson Noel
Por que acha que seus livros fazem tanto sucesso com adolescentes?
Apesar de nunca podermos prever como os leitores vão reagir, eu acho que os temas que exploro nos meus livros ; nosso propósito de vida, a jornada da alma, a natureza resistente do amor e das almas gêmeas ; são coisas que os adolescentes tentam determinar para si mesmos. E também ajuda manter o passo rápido, a estaca alta e o romance frigindo.
Esperava essa reação quando começou a escrever?
Quando Faking 19, meu primeiro livro, foi publicado, em 2005, eu fiquei tão empolgada pela ideia de vê-lo nas prateleiras das livrarias! Nunca me ocorrera que um completo estranho iria comprá-lo, lê-lo e escrever cartas sobre ele. Quando meu oitavo livro, Para sempre, saiu, em 2009, a resposta irresistível desde o primeiro dia da publicação não foi menor que espantosa. Durante a primeira semana, o livro foi reimpresso várias vezes, alcançou todas as listas mais importantes de bestsellers nos Estados Unidos e os direitos foram vendidos para o filme. Hoje, há cerca de seis milhões de cópias da série Os imortais impressas em todo o mundo. E mesmo que seja o tipo de sucesso com o qual sempre sonhei, sempre me pareceu tão difícil de alcançar que ainda é um pouco surreal que as coisas tenham realmente acontecido.
A vida inpsira a sua escrita?
A maior parte dos meus livros é inspirada na minha própria experiência. Meu mote é: se uma experiência não me matou, encontrarei uma maneira de escrever sobre ela! Acho que é importante para um autor viver intensamente e manter a mente aberta ; e toda experiência pode alimentar um livro!
Você acha que ainda há espaço para temáticas espirituais no mundo contemporâneo?
Claro! A tecologia muda, a moda é cíclica, mas a jornada humana permanece a mesma. Como o mundo se desenvolve de maneira mais instável, com guerras e incertezas econômicas, a busca por mais significado se tornou mais importante do que nunca.
Entrevista com Cecily von Ziegesar
Como sua vida real e os personagens de Gossip Girl estão conectados? Você teve uma vida parecida com a deles e estudou nas mesmas escolas;
Todos esses personagens de Gossip Girl e da escola têm pequenos pedaços de coisas que aconteceram comigo e foram tiradas da minha vida como uma adolescente que cresceu em Manhattan estudando numa escola para garotas da elite. Mas sou uma autora de ficção, então a maior parte é inventada. Eu, certamente, não conheci nenhum assassino psicótico na escola. É pura ficção.
Por que escrever a série? Imaginava que teria sucesso que teve, com adaptação inclusive para a televisão?
Eu não tinha ideia que Gossip Girl seria um enorme sucesso. Eu ficava pensando: "Quem é que vai simpatizar com essas crianças ricas e mimadas?" Eu sempre mantive isso na cabeça enquanto estava escrevendo. E era meu objetivo fazer com que o leitor se importasse e mantê-lo conectado, lendo sempre.
Você se sente uma autora para meninas adolescentes? E o que isso representa para você?
Pode parecer irresponsável, mas eu não penso nos leitores quando estou escrevendo. Só tento escrever um livro que eu mesma gostaria de ler. Tento criar algo novo, algo que eu não tenha ouvido um milhão de vezes. Tento ser divertida. Quando termino de escrever, me lembro que alguém vai ler o livro. Mas não penso em mim mesma como uma escritora para adolescentes. Sou apenas uma pessoa que gosta de escrever histórias.
Trecho de Psycho killer, de Cecily von Ziegesar
oi, gente!
Vocês querem saber como é a vida dos eleitos? Bem, eu vou contar,
porque sou um deles. Não estou falando de modelos ou atores, da
realeza nem de estrelas de reality show, de líderes cult ou dos mortos-
vivos. Estou falando de pessoas que nasceram para isso ; as que
têm tudo o que qualquer um pode querer e que não dão valor a
nada. As que literalmente se safam de homicídios.
Bem-vindos ao Upper East Side de Nova York, onde meus amigos e
eu moramos, estudamos e nos divertimos ; e às vezes nos matamos.
Todos nós moramos em apartamentos enormes, temos nosso próprio
quarto, nosso próprio banheiro e nosso próprio telefone. Temos
acesso ilimitado a dinheiro, bebidas, armas antigas, venenos apocalípticos,
os melhores limpadores de carpete, malas sob medida, sedãs
de luxo e qualquer coisa que a gente quiser. Nossos pais raramente
estão em casa, então temos toneladas de privacidade e oportunidades
ilimitadas de cometer crimes escandalosamente sujos. Somos inteligentes,
herdamos uma beleza clássica, usamos roupas incríveis e
sabemos nos divertir. Nosso cocô ainda fede, mas não dá para sentir
o cheiro porque a cobertura é descontaminada de hora em hora e
a empregada borrifa um desodorizador refrescante feito exclusivamente
para nós por perfumarias francesas.
É uma vida de luxo, mas alguém tem de vivê-la... Até que morra.
Nossos apartamentos ficam perto do Metropolitan Museum of Art,
na Quinta Avenida, e das escolas particulares exclusivas para meninas
ou meninos, como a Constance Billard, que a maioria de nós frequenta.
Até de ressaca e com uma cãibra por causa da última noite de chacina
a Quinta Avenida sempre parece linda de manhã, com a luz do
sol brilhando na cabeça dos meninos gostosões da St. Jude;s School.
Mas há algo de podre no caminho do museu...