Diversão e Arte

Preparadora de elencos afirma que falta audácia nos atuais filmes nacionais

postado em 21/08/2012 08:52

Fátima Toledo é uma das mais conceituadas preparadoras de atores do país. Em 1980, as aulas de teatro que ministrava na Febem lhe renderam o convite de Héctor Babenco para orientar os meninos do filme Pixote, iniciando assim uma carreira de sucesso, hoje com dezenas de títulos no currículo. Entre eles Medicine Man (com Sean Connery, a quem ensaiou), Central do Brasil, Céu de Sueli, Besouro, Cidade de Deus, Mutum e Tropa de Elite 1 e 2, além de inúmeros filmes publicitários. Prestes a lançar o livro Interpretar a vida, viver o cinema, que conta suas experiências como preparadora de elenco, a mulher de pequena estatura e grande personalidade traz nos belos olhos verdes a perspicácia de quem enxerga à fundo e desnuda a alma de quem estuda com ela. A pessoa calma e bem-educada que gosta de teatro, tomar vinho com os amigos, passear com os cachorros e meditar quase todos os dias, divide espaço com uma profissional exigente e incansável, capaz de trabalhar 12 horas por dia, seis dias por semana e meses a fio até alcançar seus resultados. Em entrevista concedida minutos antes de entrar em sala para um treino aqui na cidade com 17 atores, Fátima conta um pouco sobre seu método de treinamento, desmitifica confusões no trabalho e analisa os atores e o mercado brasileiro.


Como nasceu o trabalho de treinamento dos atores?

Tudo começou no filme Pixote, com meninos vindo de centros de recuperação. Quando peguei o elenco para treinar percebi que o processo era muito mais profundo. Não tinha como chegar lá e falar de teatro, representação, texto e personagem sendo que eles não eram nem atores e ainda cheios de problemas pessoais. Até tentei, mas foi um fracasso, quase desisti. O método nasceu por intuição. Entendi que era preciso primeiro limpar os meninos de antigas emoções antes de buscar o personagem. Não tem como introduzir alguma coisa sem antes abrir espaço. Depois que limpei, passei a construir a emoção dos personagens por meio da observação de animais e, com comparações, consegui fazê-los entender o que era amor, alegria, raiva, medo e dor, na medida certa.

Como são os exercícios do método?
O método é um trabalho bastante objetivo, porém cuidadoso, que pode levar de um a dois meses. Treino o ator já focando na emoção do personagem que ele vai fazer, mas primeiro observo bem a pessoa e descubro quem ela é pelo jeito de olhar, de falar e de andar. Revelados os excessos, ou as faltas, começo um trabalho de reorganização de energia, por meio de exercícios de bioenergética e kundalini. Uma vez equilibrado, coloco os atores para ensaiar juntos. Com isso, afino o coletivo. Por fim, apresento a cena para o diretor, que dá os retoques finais. Esse não é um trabalho de psicologia, como já ouvi por aí. Não estou lá para curar ninguém, eu quero que a pessoas se revelem para eu poder revelar o personagem.

Leia a entrevista completa na edição impressa do Correio Braziliense

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