postado em 26/08/2012 17:43
Desde o último dia 21, estão expostas no Palácio dos Bandeirantes 66 pinturas de origem peruana, da Escola Cusquenha de Arte, que fazem parte do acervo do governo estadual. A exposição Cusquenhos nas Coleções de Arte dos Palácios ; Reflexões traz obras que estão sendo investigadas com o objetivo da reclassificação e da valorização da obra cusquenha. Por meio de técnicas especiais, os pesquisadores estão descobrindo quais as reais datas da produção das obras e de onde vieram.O estudo está sendo feito com o apoio do Instituto de Física da Universidade de São paulo (USP) e da historiadora Aracy Amaral. Os pesquisadores utilizam métodos como reflectologia de infravermelho, fluorescência de ultravioleta, radiografia e a classificação não destrutiva de análise de superfícies. Até agora, foram descobertas telas produzidas em três períodos diferentes, com três tipos de desenho.
;A investigação científica vem para confirmar que nem todas são cusquenhas coloniais, apesar de terem sido produzidas na região andina e terem sido trazidas ao Brasil com essa classificação. O objetivo do estudo é reclassificar e catalogar as obras para ter uma datação aproximada da produção;, disse a curadora do Acervo Artístico Cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo, Ana Cristina Barreto de Carvalho.
A coleção pertence ao governo estadual e foi adquirida nos anos 1960 e início de 1970 também no contexto decorativo, para ambientar os palácios do governo. Esta é a primeira vez em que as obras estão todas juntas, já que parte delas fica no Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão, também do governo estadual. ;Na época em que foram adquiridas, as obras representaram a resposta à demanda de mercado de um certo modismo, já que, em todas as casas consideradas de elite, havia pelo menos uma obra cusquenha;.
Uma das obras que já teve suas peculiaridades reveladas pelo estudo é a pintura de um anjo, que teve a tela recortada de um grande painel, provavelmente no século 18. No recorte, nota-se um desenho muito desproporcional à cena que se vê, o que é uma evidência de uma camada que antecede duas cenas posteriores. ;Não sabemos onde está essa tela recortada. Muitas dessas obras foram recortadas de telas grandes para atender a uma demanda de mercado. As menores eram mais fáceis de serem comercializadas e transportadas;, relata Ana Cristina Carvalho.
Para não perder a tela e aproveitar a cena do recorte, eram utilizados os mesmos materiais para refazer a mesma pintura. ;Por muitas perdas de policromia, de pigmentação dessas telas originais, para que não se perdesse aquilo eles utilizavam, a própria tela;, explica a curadora. Na tela do anjo, foram identificados imagens de São José e do menino Jesus feitas em diferentes períodos.
A maioria das telas traz imagens religiosas, característica que demonstra o período colonial no qual havia uma busca e identidade na região. A principal função das obras eclesiásticas da época era didática e catequética, usadas pelos espanhóis para doutrinar o povo local. ;A arte mostrada nessas telas é mestiça e incorpora influências europeias do colonizador espanhol, italiano e flamenco, interpretando, ao seu modo, seus costumes e símbolos próprios, mostrando também a fauna e flora local;.
A investigação está sendo feita há seis meses e começou com uma viagem à Lima, no Peru, para visitar especialistas em arte do país e colecionadores que têm telas semelhantes. As obras ficam expostas até dia 4 de novembro e as visitas são agendadas e acompanhadas por monitores.