Nahima Maciel
postado em 02/09/2012 09:13
A soberba autoral de Diogo Mainardi morreu quando Tito nasceu. Foi em 2000, no hospital veneziano instalado no prédio da Scuola Grande di San Marco, um marco da arquitetura renascentista. Anna, a mulher de Mainardi, estava com medo do parto. Afinal, a instituição era reputada pelos erros médicos. Sem poder imaginar o que lhe reservavam as horas a seguir, Mainardi brincou e disse à esposa que, com uma arquitetura daquelas, aceitava até um filho deformado. O parto de Anna foi um desastre: a obstetra de plantão queria encerrar o turno e apressou o nascimento da maneira mais estapafúrdia possível. Estourou a bolsa, demorou para fazer a cesárea e deixou o bebê sem ar durante 45 minutos. Resultado: Tito ganhou uma paralisia cerebral que não tinha até as mãos da dotoressa F pousarem sobre seu destino. Mas não é com complacência que Mainardi trata do fato em A queda.
Recém-publicado, o livro é uma celebração das coisas que Tito ensinou ao pai. Entre elas, a constatação da impossibilidade de escrever romances daqui pra frente. Mainardi pensava ser o grande árbitro de sua própria vida, pensava controlar tudo até começar a ser controlado por um garotinho incapaz de andar ou falar. A ideia do livro germinou em 2008, mas apenas em 2010 o escritor conseguiu vislumbrar o primeiro broto. Na época, havia encerrado a coluna na qual atazanava a vida de Lula e do PT em uma revista e decidira pelo retorno definitivo à Veneza natal de Tito, abandonada nove anos antes a conselho de médicos norte-americanos. Tito viveria melhor em um lugar quente, no qual pudesse se movimentar com liberdade, usar as pernas e explorar o mundo ao seu redor. E foi viver nas areias das praias do Rio de Janeiro. A queda é o jeito de Mainardi explorar Tito.
A QUEDA
De Diogo Mainardi. Editora Record, 152 páginas. R$ 29,90.