Diversão e Arte

Cineastas reclamam que faltam roteiristas para produção nacional

postado em 02/09/2012 15:30
Brasília ; A intenção da Agência Nacional de Cinema (Ancine) de aumentar a produção de filmes brasileiros e tornar o país o quinto mercado de audiovisual do mundo esbarra na falta de mão de obra qualificada, especialmente roteiristas e executivos que possam conceber e realizar produções de sucesso, dizem os cineastas.

;A narrativa do filme e o entendimento do business [negócio] são dois aspectos vitais;, explica o roteirista e produtor Marcus Ligocki. Segundo ele, ;não basta a capacidade técnica de filmar. É preciso entender a lógica de produtores, distribuidores e exibidores.;

A opinião do cineasta é compartilhada pelo diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel. ;Para o mercado que queremos, será necessário ter produção mais robusta, mais desenvolvedores de projetos, mais homens de negócio;, disse à Agência Brasil. Para ele, ;o mercado já tem massa crítica; e busca cada vez mais fazer ;filmes com capacidade de comunicação.;

No mercado cinematográfico brasileiro, o produtor e roteirista, Marcus Ligocki, aponta como profissional de referência José Padilha, diretor de Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 ; o último foi o maior sucesso do cinema nacional e a segunda maior bilheteria registrada no Brasil (arrecadou R$ 102 milhões em 263 salas de cinema), visto por mais de 11 milhões de pessoas.

[SAIBAMAIS];Padilha é um estrategista. Sabia o que queria e como queria fazer. Ele conhece o mercado, tem talento, mantém bons relacionamentos e busca resultado fílmico.; Para ser executivo, Ligocki diz o que é preciso: ;Saber ler o futuro e disposição para o diálogo, para entender quais são os valores do mercado, o que é importante para os interlocutores,; se referindo, por exemplo, a distribuidores e exibidores.

Um dos méritos de Padilha, na avaliação do diretor de cinema independente Luiz Roberto Menegaz, foi ter feito dois filmes de grande sucesso, sem depender de patrocínio oficial. ;Aqui no Brasil as pessoas se habilitaram a fazer com lei de incentivo;. Para ele, ainda falta o país aprender um ;novo modelo de negócio; e incorporar ;o planejamento de longo prazo.;

A dependência dos patrocínios estatais também é criticada pela produtora Júlia Moraes. Ela avalia que ;o cinema atrelado ao Estado; herda ineficiências do setor público e não tem preocupação com resultados. ;Não dá para fazer quatro filmes ruins pagos pelo Estado;, critica.

Para Júlia, há sempre risco do país produzir muitos ;filmes inexpressivos;. Ela alerta: ;Um cinema sem personalidade, não existe;. Luiz Roberto Menegaz concorda e avalia que o cinema brasileiro tem que ;trabalhar melhor com a condição humana;. ;O cinema é reflexo da vida. Se narra o que vive;, diz ao defender filmes ;mais autorais;, porém que saibam mobilizar grandes públicos. Ele é autor de um filme ainda inédito sobre como será a final da Copa do Mundo de 2014 (uma ficção sobre o jogo final entre Brasil e Argentina).
Marcus Ligocki acrescenta que o cinema brasileiro ;é pouco universal; e nem sempre domina ;os elementos que fazem as estórias serem atraentes, como por exemplo os elementos da imagem (linhas, movimento, forma, cor e impactos emocionais associados).;

Com o intuito de ter um roteiro mais atraente para o filme que dirigirá em 2013, Ligocki está em Los Angeles (Estados Unidos) para reescrever o texto junto com o roteirista Bruce Block (autor do livro A Narrativa Visual). Segundo ele, foi necessário ir aos Estados Unidos para contar com um roteirista que o ajudasse a encontrar ;caminhos mais polidos da estória; e reelaborar pontos como ;as motivações dos personagens.;

A capacitação de mão de obra é uma das diretrizes do Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual (PDM), elaborado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Entre as metas, a agência quer, em 2020, funcionamento de 80 cursos superiores em todo o país com foco em audiovisual e 1,6 mil pessoas graduadas ou especializadas na área por ano.

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