Diversão e Arte

Irmãos Campana têm Paris aos seus pés com exposição e uma suíte no Lutetia

Agência France-Presse
postado em 14/09/2012 16:20

Paris - Eles começaram criando peças artesanais com conchas e material reciclado, e pouco a pouco alcançaram a fama: agora, Humberto e Fernando Campana têm Paris aos seus pés com uma exposição e uma suíte criada no hotel Lutetia, um dos mais seletos da Cidade Luz.

Intitulada "Irmãos Campana: Barroco Rococó", a exibição no Museu de Artes Decorativas - que abriu suas portas esta semana-, acontece até 24 de fevereiro e é a primeira em um museu francês da dupla de designs,que já expôs no MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) e em museus da Alemanha.

A dupla, formada por Humberto, de 59 anos e advogado de formação, e Fernando, de 51 e arquiteto, recebeu também esta semana, das mãos do chanceler francês Laurent Fabius, o Prêmio Colbert 2012, concedido por 75 grandes marcas de luxo francesas e 13 instituições culturais.

As homenagens e reconhecimentos mundiais não parecem ter mudado o foco de simplicidade da dupla, que há trinta anos recolhia conochas na praia para colocar em quadro e espelhos e vender em sua caminhonete.

"Entrar em um museu parisiense e criar uma suíte no Lutetia é realizar um sonho", disse Fernando Campana em uma entrevista no próprio hotel.

O Brasil, sua natureza, sua fauna, flora, suas cores, ruas, sua mestiçagem, é a fonte constante de inspiração dos Campana, que ficam conhecidos em 1991 com a cadeira "Favela", executada em pequenos pedaços de madeira, que mais de uma década depois foi produzida em série pela marca italiana Edra.

"O Brasil continua sendo sempre uma grande inspiração, porque é um continente muito rico", disseram os Campana, que para a Galeria de Atualidade do Museu de Artes Decorativas criaram uma cenografia em fibra de coco e usaram o bronze em candelabros adornados con crocodilos, bambú e peles.

A dupla também se inspira no barroco brasileiro, segundo os próprios designs. "Mas a exposição é mais uma homenagem à Roma", disse Humberto.

"Passamos praticamente a metade do tempo fora do Brasil", explicou Humberto, acrescentando que, para a exposição parisiense, ficou vários meses na capital italiana, no ateliê de um ourives romano.

"Porque o que nos interessa é essa liberdade de poder trabalhar com aquilo que sempre sonhamos, trocando nossas experiências e a tradição da Europa", disse.

Ver a suíte do hotel Lutetia, em tons de verde vegetal e com um espesso tapete em tons de marrom, que não só cobre o piso mas também a cabeceira da cama, é quase como por os pés no Brasil.

Como vocês tiveram a ideia dessa suíte em um hotel?", perguntou a AFP a Fernando Campana. "Sempre sonhei em me hospedar no Lutetia, mas não tinha os meios. Quando viemos no ano passado, convidados pelo Museu d;Orsay, para quem criamos a Cafeteria do Relógio, nos hospedamos aqui e nos apaixonamos pelo ambiente intelectual, artístico do hotel", disse Fernando.

"Vimos que havia aqui suítes criadas por artistas como David Lynch, e isso me fez sonhar. Logo depois o hotel entrou em contato consoco e pediu que criássemos uma", lembrou.

[SAIBAMAIS]Os irmãos, que cresceram em Brotas, a 250 quilômetros de São Paulo, em um sítio cheio de árvores frutíferas e rodeado de cascatas, disseram que para a suíte buscaram recriar seu "universo brasileiro".

"Temos uma vivência muito grande do campo brasileiro, do interior de São Paulo. Mas ao mesmo tempo queríamos respeitar o ambiente e a tradição do hotel", observou Humberto Campana.

"Queríamos dar um ar vegetal. Partimos do piso, que representa um campo florescido, com as paredes em verde claro e cortinas que filtram a luz", disse Fernando.

"Tudo foi feito com elementos que tem uma referência orgânica, como as cadeiras ;leather box;, feitas com 400 pedaços de couro, de textura diferente ou as lâmpadas com forma de cogumelos", explicou.

Os Campana, que estão cheios de projetos e sonhos, também confeccionam peças de joalheria, fazem design de interiores e roupas, brincando no limite da arte e do artesanato, do comum e do luxo barroco.

"Queremos criar pontes, com processos artesanais que estão fragilizados na sociedade. Tentamos valorizar e resgatar processos manuais e comunidades de artesãos que trabalham para nós", concluíram os irmãos, cujas peças figuram em grandes coleções privadas e museus.

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