postado em 30/09/2012 09:47
É difícil colocar Simone Reis dentro de um papel social. Atriz? Diretora? Performer? Professora universitária? Artista, quem sabe. Louca, talvez...Uma das criadoras mais inquietas de Brasília, ela circula com dois trabalhos: O espelho, em cartaz em Sobradinho, e Fale com ela doce como quê?, mostrando um pouco do vigor com que transforma a rotina de aulas em laboratório de criação. "O que faço na universidade é arte acima de tudo e valorizo os atores em formação imensamente. Somos muitos professores e artistas. Todos temos produzido muitíssimo", avisa. O que você acha careta na arte?
Acho careta tudo o que parece ser, mas não é. O que é pretensioso, fala só e somente dos outros, idolatra a técnica dos outros, a peça dos outros, a vida célebre dos outros atores, do país dos outros diretores. Caretas são os papagaios. A globalização, a antropofagia e os tupinambás trazem o outro até você. Em vez de imitar o outro, você precisa devorá-lo.
O seu trabalho investiga com frequência o universo dos depoimentos pessoais. Sua vida é também a grande fonte de inspiração?
Sim, porém minha vida é algo muito insignificante. Vislumbro um teatro menor, esse foi o meu treinamento. Teatrinho feito por anos no parapeito da janela, com as minhas bonecas despedaçadas devido aos meus experimentos artísticos, dublagens de Bibi Ferreira, uma cafonice mineira. Não tenho nenhum trauma. Não fui muito pobre nem muito rica. Não sofri quase nada na vida a não ser por amar o balé e não ser uma boa bailarina. Sublimei os meus fracassos artísticos da infância com a performance e com a coragem.
Foi difícil encontrar o seu caminho artístico?
Sempre fui corporal a meu modo, mas nunca fui capaz de dançar a dança de outro alguém. Fracassada e condenada a ser diferente (ou seja, eu mesma), passei a me interessar pelo espetáculo da vida. Fui reprovada em alguns testes teatrais em Brasília no fim dos anos 1980. Depois disso, comecei a me contorcer e criar a minha linguagem. Agradeço a todos os que não entenderam ou não escutaram a minha excentricidade porque isso me tornou invisível e não pude ser moldada.
Confira a entrevista na íntegra na edição impressa deste domingo do Correio Braziliense