Desde o século 19, os franceses chegam ao Brasil para somar conhecimento. Os primeiros, na maioria agricultores, trouxeram técnicas modernas de produção. Criaram portos, introduziram uma filosofia humanista de educação e não fizeram diferente na gastronomia. O francês Gustavo Gastal, por exemplo, nos apresentou o pêssego em 1878. O famoso Claude Troisgros chamou a atenção do mundo para as riquezas dos ingredientes brasileiros. E, agora, Roland Villard segue a história. Morando há 15 anos no Brasil, o premiado chef francês está à frente da empreitada que acomodará em solo carioca a primeira filial da Le Cordon Bleu, a tradicional escola de gastronomia francesa.
Considerado um dos melhores chefs da alta gastronomia no país, Villard é o único atuante na América Latina a fazer parte da Academia de Culinária Francesa. Tanta experiência o tornou consultor da escola parisiense, posto que lhe dá crédito para analisar o cenário gastronômico brasileiro. ;Fala-se muito das comidas e dos ingredientes mexicanos e peruanos, mas só são conhecidos alguns pratos brasileiros. No Brasil, não faltam ingredientes bons e interessantes. O problema é encontrar quem saiba melhor utilizá-los;, observa. Na próxima terça-feira, Villard estará em Brasília para ministrar aula-show no shopping Casa Park. Antes, concedeu uma entrevista ao Correio.
O senhor é consultor da filial da Le Cordon Bleu no Brasil. Como foi convidado para fazer parte da escola?
Conheço o pessoal da escola há muito tempo. O Patrick Martin (um dos donos do Le Cordon Bleu) me procurou para saber se eu poderia ajudar a intermediar as negociações com o governador para levar a escola para o Rio de Janeiro. O Sérgio Cabral tinha interesse e se animou com a ideia. O senhor Cointreau (André J. Cointreau, outro dono da escola) e o Cabral conseguiram montar um projeto que terá financiamento do estado.
A escola é privada e fechou uma parceria com o Estado. Como vão fazer para cobrar mensalidades em um empreendimento com investimento público?
Essa é a parte que me deixa feliz, de poder contribuir com a população. Teremos uma reserva de 20% das vagas para alunos carentes, aqueles que não podem pagar a mensalidade. Fazer gastronomia no Brasil está voltado para as pessoas com dinheiro. Elas pagam mensalidades caríssimas e, depois, quando saem, nem sempre aceitam receber os salários iniciais do mercado. Na França, 90% das escolas de gastronomia são públicas. A Le Cordon Bleu em Paris é caríssima e, aqui no Brasil, as pessoas que vão pagar pagarão caríssimo. A escola no Rio de Janeiro, porta de entrada do Brasil, vai ser boa tanto para os brasileiros que precisam ir para outro país para estudar quanto para desenvolver ainda mais o turismo no Rio de Janeiro.
Os problemas para a abertura de uma filial com a Universidade de Brasília causaram alguma mudança na parceria firmada no Rio de Janeiro?
A Le Cordon Bleu quer vir para o Brasil. Seja em Brasília, seja no Rio de Janeiro. Foi uma pena que a parceria em Brasília não tenha ido para frente, mas não nos atrapalhou em nada. Aliás, nada impede que a escola seja levada para outros estados brasileiros. Se Brasília tiver interesse ou outro estado, é só me procurar que conversaremos. O senhor Cointreau está feliz que a escola tenha vindo para o Rio de Janeiro. O Patrick Martin também. Seria maravilhoso se fosse em Brasília, mas não foi fechada a parceira. Mas, como disse, nada impede de levarmos a escola para lá também.