postado em 14/10/2012 08:03
A foto que acompanha essa reportagem, tirada no Lixão da Estrutural, não foi nada prazerosa para o ilustrado André Bezerra, o ator mirim, de 12 anos, protagonista do curta-metragem Meu amigo Nietzsche. ;Não gosto de retornar aqui, não gosto das moscas e do cheiro;, reclama. O documentário, que levou quatro prêmios na Mostra Brasília, do festival de cinema da capital, aborda a questão do analfabetismo funcional de uma maneira inusitada, não por diagnosticar as razões, mas por identificar uma solução: leitura.No meio desse mesmo Lixão, Lucas, o personagem protagonista vivido por André, encontra um exemplar desgastado de Assim falou Zaratustra, obra fundamental, porém de difícil compreensão, do filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche. O menino Lucas enfrenta dificuldades com a leitura e está à beira de uma reprovação na escola. O livro o fascina e o torna um ávido leitor. Graças ao novo amigo, ele vence a estranheza das letras e mergulha na atmosfera nietzschiana. As inusitadas posturas e tiradas que passa a tecer junto à professora e aos pais proporcionam um tom cômico (e inteligente) ao filme, que tanto agradou o público e crítica. Porém, o enredo cativante nada seria sem uma atuação original, que pudesse garantir a autenticidade da história. Mérito de André, que cumpre a missão.
O lixo parece não assustar mais ninguém. As contribuições do chorume estão por toda parte. Pano de fundo principal em novela das 21h, material para produção artística, sustento. Avenida Brasil e os documentários Lixo Extraordinário (2010) e Estamira (2004) sabem aproveitar o apelo do lixo para sensibilizar os que assistem. Lição ensinada por Joaõsinho Trinta, na avenida, desde a década de 1980. É desse mesmo cenário que emerge a nova promessa das telas brasilienses.