Diversão e Arte

Roupas justas é um dos truques de Letícia Isnard para compor a Ivana

postado em 14/10/2012 18:08

Se a Ivana de Avenida Brasil era para ser uma personagem desengonçada, com um forte acento ;baranga;, sua intérprete, Letícia Isnard, deu um jeito e construiu um tipo que extrapolou o conceito de ;cheinha sem graça; da família. Segundo a atriz, é comun ouvir nas ruas incentivos à autoestima da comilona irmã de Tufão (Murilo Benício), que foi enganada a vida inteira pelo marido, Max (Marcelo Novaes). Ao vivo, mostra um tipo físico bem diferente da caracterização feita para o papel. ;Sempre dizem que achavam que eu era gorda;, conta. ;Na verdade, eu nem uso enchimento, só roupas bem justas. Escolhem um figurino que não é o adequado para o meu corpo.; Aos 37 anos e em sua segunda novela, Letícia, formada em ciências sociais, aproveita a boa fase na tevê para tentar se firmar nas novelas, mas não abandona os projetos no teatro. ;Traduzi espetáculos argentinos. Penso até em escrever uma peça, mas tudo que tentei até hoje não me agradou. Um dia sai;, diverte-se. Abaixo, ela fala sobre o curioso processo de composição que criou para lançar Ivana.

Avenida Brasil é sua segunda novela e sua carreira na tevê foi mais marcada pelo humor. Como você conseguiu o papel da Ivana?
Por meio de testes. Me ligaram, mas era para fazer o teste em São Paulo, por minha conta. Achei estranho porque estavam testando só atrizes de lá. Não sei se já tinham visto muita gente do Rio, mas acho que queriam um rosto que não fosse muito conhecido na tevê. E eu só fiz uma novela, Beleza pura, com um papel pequeno. No teste, de todas as pessoas que vi tentando e que eu conhecia, não havia nenhuma atriz que o grande público saiba quem é. Fui com muito pouca informação. Só tinha o texto da primeira cena de cama dela com o Max, já falando com voz de neném. E era uma cena bem cômica. Por isso, até venho me surpreendendo com o potencial dramático da personagem.

De onde surgiu essa voz infantilizada?
Estava no texto. Não foi criação minha. É uma proposta do autor (João Emanuel Carneiro). Desde o início, a Ivana é mostrada como uma verdadeira ;mala;, embora tenha seu lado carismático. Essa coisa da voz vai para um tom de absurdo, para um lugar onde fica patético e se torna engraçado. Dá uma fragilidade à personagem, mostra ela extremamente infantil afetivamente. Tem outro ponto: o Max é um vilão, existe uma raiva dele por parte de quem assiste. Acho que funcionou como castigo, como se ele merecesse uma mulher que falasse com essa voz. Pelo menos, ali, ele sofria. Quase uma vingança dela sem saber que era traída.

Pela sinopse, a Ivana é gorda e feia. Você precisou mudar alguma coisa no seu visual para o papel?
Esse é um detalhe curioso. Quando fui fazer a primeira prova de figurino, conheci o Marcos Caruso (que dá vida ao Leleco da trama, pai de Ivana e Tufão). Ele começou a me contar da novela, porque não tive acesso à sinopse. E, no meio, ele disse: ;O que é estranho é que, pela sinopse, a Ivana é gorda e feia;. Eu não sabia disso. O que fizemos foi carregar no fato de ela ser chata. E um caminho bom para isso foi mesmo a voz de neném. Além disso, no vídeo, a gente dá um jeito de parecer mais gordinha.

Isso mexe com sua vaidade?
Sou vaidosa, mas em um nível saudável. E quem trabalha com humor já tem uma abertura maior para essas coisas. O personagem é quem tem de ganhar. Mas nunca tive de raspar a cabeça e nem engordar 30 quilos para um papel, não posso dizer muito. Para Avenida Brasil, não me pediram para engordar. O que acontece é que minha personagem usa o figurino errado. São roupas que não favorecem meu corpo. Mas, com um decote bonito, um tecido bom, acho que fica bem legal. Além disso, na tevê, quem tem quadril parece gorda. Eu também investi nela ser comilona. Sempre que eu posso, gravo comendo.

Você também usa um perfume específico para gravar as cenas da Ivana. Por que trabalhar com cheiro na tevê?
Sempre escolho um perfume para os meus personagens. Acho o cheiro uma coisa tão característica nas pessoas que isso me ajuda. Em um processo como esse, de tevê aberta, sem grandes informações, é bacana. Eu levei também os florais para a personagem. Achei que ela deveria ser meio compulsiva. O que eu queria mesmo era que ela fumasse. Mas, por uma questão de legislação, não pode. Na minha cabeça, ela largou o cigarro e compensou com florais. Essas mudanças dificultam um pouco nosso trabalho. Você consegue imaginar uma Heleninha Roitman (personagem alcoólatra de Renata Sorrah na novela Vale tudo) sem cigarro? Por um lado, concordo que não é legal ficar mostrando esse vício. Mas, por outro, a dramaturgia perde.

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