Ricardo Daehn
postado em 09/11/2012 07:00
"Ela gosta de passear". Com essa frase, na linha da ingenuidade, um marido define a adúltera mulher chamada Viera, figura central na trama de Pequena Moscou, uma das atrações da reta final do 4; Festival de Cinema Polonês, em exibição, com entrada franca, no Centro Cultural Banco do Brasil. Integrado à programação das 18h, Pequena Moscou se desdobra em tempos diferentes: um de felicidade para o piloto de caça Jura e outro de certa resignação, passados vários anos da traição. No filme assinado por Waldemar Krzystek o polonês Misha é quem rouba Viera, desde o primeiro beijo, considerado apenas "ofensivo" pela vítima do homem versado na "escola da sedução".Enfocando o impacto de episódios de ampla repercussão ; como o da morte do astronauta Yuri Gagrin ;, o diretor aproveita para revelar detalhes sociais da presença de soviéticos dentro da Polônia, realidade que trouxe o apelido de Pequena Moscou à cidade de Legnica. Efeitos de espionagem respingam naquele tornado o "maior amor de Legnica", no filme que arrebatou o prêmio concedido pelo público no Festival de Moscou.
Dando continuidade ao renome da Escola de Lódz (invejável, na formação de fotógrafos), Adam Sikora (indicado ao European Film Award) tem relevância noutra produção a ser mostrada, hoje (às 20h30), no CCBB: Essential killing, produto do importante diretor Jerzy Skolimowski. Depois de prenunciado um anticrito, no palco de guerra do Afeganistão, Mohammed (Vincent Gallo, tido como melhor ator nos festivais de Mar del Plata e de Veneza) é o personagem dúbio que pode ser desde criminoso comum a integrante da Al-Qaeda, na trama do longa. Um jogo de contrastes culturais também se propaga na trajetória errante de Mohammed que, após torturado, passa a ter vivência à la do protagonista de O fugitivo. Descalço e ferido, num filme de silêncios absolutos (detentor do prêmio especial do júri no Festival de Veneza), o rapaz enfrenta o ermo, vivendo de visões, e do avanço em peixe cru e até no seio de uma lactante.
A programação de domingo, no CCBB, pela ordem (às 18h e às 20h30), alinha dois filmes que têm em comum o registro de rito de passagem: Veneza e Tudo que amo. O vestígio do batom da mãe num caco de vidro é um dos alentos para o jovem polonês Marek, que, além da discriminação a judeus, vai presenciar sugestionamento da extinção de "vida pública e privada", durante a Segunda Guerra. Entre prazeres infantis e situações duras (como a do retorno de um traumatizado pai), Marek adota o mantra "Eu não quero ficar aqui", enquanto sonha com um carnaval em Veneza, cidade simulada pela existência de imenso reservatório de água no subsolo da casa dele. Finalmente, Tudo que amo traz uma espécie de Verão de 42, mas dirigido por Jacek Borcuch, numa litorânea cidade polonesa.
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