Estado de Minas
postado em 09/11/2012 11:47
Na indústria fonográfica, quem é morto sempre aparece. Entra ano, sai ano não há crise que impeça a ;ressurreição; daqueles gigantes da música pop que, desencarnados ou não, sempre foram ; e a depender da ganância sem fim dos executivos das gravadoras, continuarão sendo ; os principais recordistas na vendagem de discos no planeta. Uma mórbida necrofilia que teima eternizar em dólares a embalsamada arte de nomes como Elvis Presley, Frank Sinatra, John Lennon, Kurt Cobain/Nirvana, Ray Charles, Janis Joplin, Bob Marley, George Harrison, Johnny Cash,Tupac Shakur, Jimi Hendrix e James Brown.Nesse perverso pool, há tempos que o ;rei do rock; foi superado de longe pelas cifras obtidas pelo ;rei do pop;. Sim, Elvis Presley parecia mesmo imbatível quanto aos lucros post-mortem auferidos pela comercialização de seus discos. Porém, há dois anos consecutivos que Michael Jackson assumiu a ponta de lança entre os biliardários do além. De acordo com a revista Forbes, o legado de Wacko Jacko soma hoje algo em torno dos US$ 200 milhões ; cifra assustadoramente elevada quando comparada aos US$ 60 milhões amealhados por Elvis, agora em segundo lugar na lista dos músicos falecidos mais ricos da história.
Viva Miko
E já que estamos a falar de um tema bizarro, vale lembrar que Michael Jackson ; ou, pelo menos, seu espectro ; está novamente em plena turnê pelo planeta. Tudo por conta de The immortal world tour, espetáculo multissensorial que o Cirque De Soleil estreou no início de outubro, para deleite da enlouquecida plateia da arena Bell Center, em Montreal. Por ora, ninguém pode dizer ao certo se o Cirque du Soleil vai ou não se especializar em homenagens a artistas mortos ; não por acaso, seu show Viva Elvis faturou números astronômicos durante sua temporada. Doravante, porém, The immortal world tour tem previsão de 150 apresentações ao redor dos Estados Unidos até julho do ano que vem, devendo se expandir ao redor do globo até 2014.
Mas as extravagâncias geradas em torno de Michael Jackson não param aí: de uma só tacada, chegaram ao mercado a edição comemorativa do 25; aniversário do álbum Bad e o DVD Live at Wembley Arena July 16, 1988. Documentos históricos de uma época em que a frase ;who;s bad?; ; sussurrada pelo cantor durante a execução do funk racha-assoalho que dava nome ao disco ; se tornou uma espécie de bordão cultural para uma geração. Ainda assim, ambos os registros provavelmente servirão apenas de aperitivo para o retorno colossal de Thriller, disco divisor de águas na carreira do artista, que em três semanas (precisamente, no dia 30 de novembro) estará comemorando o 30; aniversário de sua edição original pelo selo Epic.
Enquanto a versão aditivada de Thriller é aguardada com ansiedade pelas massas, é preciso dizer que o recauchutado Bad envelheceu mal. OK, a gravação ; agora expandida em CD duplo ; tem lá seus momentos, mas somente a faixa-título, I just can;t stop you e The way you make me feel não são páreo para o autêntico incêndio de melodias esfuziantes, refrões ganchudos, irretocáveis performances e grooves mortíferos que consome a íntegra de Thriller. Quem precisa bisar a dose de sacarina contida em Man in the mirror? Ou, em plena era da correção político sexual, ter coragem de aplaudir a explicitamente misógina Dirty Diana? Mesmo quando Stevie Wonder entra em cena para uma canja em Just good friends, nada acontece. Em suma, mesmo tramado imaculadamente em termos de técnicas de estúdio, a frieza calculada e algo robótica de Bad não justifica tal reedição.
Quanto ao DVD Live at Wembley July 16, 1988, embora seu áudio e vídeo não sejam exatamente fruto de tecnologia de ponta ; na verdade, o mesmo foi extraído de uma velha fita em VHS () do próprio Michael Jackson e, ao que parece, a única cópia existente do show em questão ;, o meticuloso trabalho de restauração que culminou na sua materialização acaba por extrapolar seu óbvio valor documental. Tendo o príncipe Charles e a princesa Diana como convidados de honra de um dos mais empolgantes concertos que apresentou ao longo da carreira, Michael Jackson ; seja na desconcertante precisão do moonwalk e outros mágicos passos de dança, no repertório escolhido a dedo, no uso imaculado da voz como instrumento ou nos rompantes de emoção que provavam que aquele excêntrico artista tinha mesmo um coração batendo em seu peito ; mostra para as 72 mil pessoas lá presentes por que já fazia por merecer o status de lenda.