Questionado sobre qual seria o retrato atual da cultura em Brasília, o dramaturgo, músico e diretor Marco Michelângelo pinta uma cidade barroca, ao mesmo tempo descrente e apaixonada. No centro dessa paisagem, a figura do Teatro Nacional. ;Ele funciona como um monumento faraônico, um símbolo da exclusão. Quando se é artista local, é mais fácil conseguir pauta no Carnegie Hall do que lá;, ironiza Michelângelo, que há uma semana precisou fechar as portas da ainda recente companhia Teatro de Açúcar.
Essa radiografia detecta, especialmente, o descaso com a manutenção dos espaços ligados ao cenário teatral ; o que acaba refletindo em todas as instâncias: o atrofiamento da produção autoral, o enfraquecimento da identidade local e, finalmente, um apartheid entre artistas e plateia. A Faculdade de Artes Dulcina de Moraes escancara sua crise; o Goldoni precipita um fechamento com leilão decretado pelo GDF. Resultado: um sistema cultural perto do colapso, pontilhado por desmoronamento, decadência, atraso e declínio.