Diversão e Arte

Baião chegou a fazer parte de trilhas sonoras do cinema italiano

postado em 13/12/2012 12:04
Rio de Janeiro - No final dos anos 1940, já consagrado como o Rei do Baião, Luiz Gonzaga criou uma verdadeira corte em torno do ritmo. A rainha era a cantora Carmélia Alves, que morreu em novembro passado, aos 89 anos, o príncipe, o cantor Luiz Vieira e a princesa, a cantora Claudette Soares. O culto Humberto Teixeira, também advogado, era o bacharel do baião, e acabou se elegendo deputado federal, em 1950. Na Câmara dos Deputados, ele foi autor de leis em favor da difusão da música brasileira no exterior.

O baião foi beneficiário dessa difusão internacional. Nos anos 1950, impulsionado pelo sucesso de Muié Rendeira, canção do filme brasileiro O Cangaceiro, que recebeu menção honrosa no Festival de Cannes de 1953, o ritmo nordestino foi largamente usado em trilhas sonoras pelo cinema italiano. E até estrangeiros compunham baião. A atriz Silvana Mangano, por exemplo, interpretou uma dessas músicas, de autoria de dois italianos, no filme Arroz Amargo.

No acervo sonoro da Rádio Nacional há preciosidades como a série No Mundo do Baião, apresentada em 1950 pelo programa Cancioneiro Royal. Com produção de Humberto Teixeira e Zé Dantas e apresentação do radialista Paulo Roberto, a série tinha como estrela Luiz Gonzaga.

Além da temática rural e tipicamente nordestina, havia os baiões ;urbanos;, como Oxe, Tá Fartando Coisa em Mim, composto por Teixeira para o cantor Ivon Curi, e a chegada do ritmo ao carnaval carioca, com Bate o Bumbo, sucesso na voz de Emilinha Borba.


O acordeom, antes mais vinculado à música rural, conquista o público urbano e se torna o instrumento com que muitos jovens da cidade entram no meio musical. Uma dessas jovens era Adelaide Chiozzo, que chega à Rádio Nacional em 1951, aos 15 anos de idade.

;Quando ele me viu tocar, disse: ;Menina, você não vai aguentar muito tempo isso aí;, e eu perguntei: ;Por que, Luiz?;; Ele me respondeu: ;Porque todo sanfoneiro e acordeonista morre da coluna;;, lembra Adelaide sobre sua convivência com Luiz Gonzaga nos estúdios da Nacional. A cantora revela ter sido a inspiradora de uma música do sanfoneiro Cintura Fina.

;Ô, menina, eu vou fazer uma música pra você;, dizia Gonzaga, que, segundo Adelaide, vivia fazendo gracejos sobre sua cintura. ;Olha, você quando sair com a Adelaide não vira a esquina depressa não, porque ela pode quebrar no meio. Ela tem uma cintura fina demais...;. Pouco tempo depois, ele gravou a música: ;Vem cá, cintura fina, cintura de pilão, cintura de menina, vem cá, meu coração;.

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