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Fãs comentam expectativa da estreia de O Hobbit e do trabalho do cineasta

postado em 14/12/2012 08:01

Na Terra-Média não sabemos como serão as coisas pelos próximos dias, mas, no planeta Terra, o impacto do lançamento de um novo filme baseado em obra de J.R.R. Tolkien tem mexido com as expectativas de admiradores das obras do escritor britânico por todo o mundo. ;Estamos esperando há muitos anos, tomados pelo chamado ;monstro da expectativa;;, admite o revisor de textos e ultra fã, Vinícius Paiva, 31 anos. Paiva calcula já ter lido a trilogia O senhor dos anéis umas sete vezes e assistido aos filmes umas 20. O Hobbit foi lido em quatro ocasiões.

Comparando os livros e os filmes, o revisor pode dizer que confia plenamente na direção de Peter Jackson. ;Transpor um livro para a tela é muito difícil, descontando alguns furos que eles deixaram passar e escolhas que foram feitas para que o filme funcionasse, de um modo geral, Jackson (também um fã) se saiu muito bem;, acredita.

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O senhor é leitor das obras de Tolkien há 30 anos. Que características o atraem?

O paralelismo entre o mundo real e o mundo da fantasia. As circunstâncias fantásticas do Mundo do Senhor dos Anéis e do Hobbit não mascaram as paixões da alma humana que são retratadas na luta substancial entre o bem e o mal que a obra de Tolkien revela. Vemo-nos retratados em nosso apegamento a algum anel, na desesperança diante de forças que nos superam, na confiança num poder superior que rege o universo, na alegria pelas cosias simples da natureza, na ira, inveja e orgulho que se desbordam no relacionamento com nossos semelhantes. Tolkien conseguiu criar um mundo tão completo e perfeito, com sua tradição mitológica, que não paramos de admirar, reler e vibrar com seus livros. Trata-se já de livros clássicos da literatura universal, com seu lugar de destaque entre as maiores obras concebidas pelo gênio humano.

Muitos entendem a obra de J. R.R. Tolkien como alegorias para regimes de governo e variadas formas de dominação. O senhor tem a mesma percepção?

Apesar de vivenciar a 1; Guerra Mundial quando começou a escrever sua saga, tendo lutado nas trincheiras da França, nunca escreveu de forma simplista sua obra, com paralelismos que fossem evidentes. Tanto é assim que, sendo católico praticante, seus livros retratam de forma bem singular um misto de monoteísmo cristão, pela origem criada do mundo, com mitologia nórdica, mas sem explicitamente se falar de religião. E divergia, nesse ponto, de seu amigo C. S. Lewis, cujos Contos de Nárnya, para Tolkien, retratariam de forma por demais óbvia uma alegoria cristã. Os paralelismos entre regimes de governo pós Primeira Guerra Mundial foram feitos pelos seus leitores.

É possível aproximar os escritos de Tolkien com a prática do direito?

Naturalmente que sim. Tanto que pude escrever um livro sobre ética e ficção, editado pela Campus-Elsevier, no qual aproveito muitos exemplos de episódios das obras de Tolkien para ilustrar os dilemas éticos do ser humano, para vivenciar a justiça com prudência, sem se deixar levar pelas tentações do medo e do desejo. Aliás, o livro é ilustrado pelo pintor canadense Ted Nasmith, especialista sobre o universo tolkiano, plasmando em imagens as lutas pelo poder e o resgate do direito e da justiça. Penso que os personagens de Tolkien, a começar pelos hobitts, passando por magos, elfos, anões e homens, ensinam, com suas condutas, aquilo que o jurisconsulto romano Ulpiano definia como o direito: a ciência do justo e do injusto.

O Hobbit é uma história infantil. Que valores são transmitidos às crianças (e adultos, claro) em sua leitura?

Tendo sido o primeiro livro de Tolkien, reunindo as histórias que contava aos seus filhos, é o mais simples da saga completa que escreveu, cujo Universo é desenhado no Silmarillion e cujo drama principal se desenvolve em O senhor dos anéis. A coragem bonacheirona de Bilbo, herói por necessidade e não por vocação, serve de exemplo para qualquer pessoa, cujo dia-a-dia não é diferente da pacata Hobbiton, mas que, vez por outra, enfrenta aventuras inesperadas para as quais a retidão moral será a força que permitirá resistir e vencer. A lealdade, paciência, amizade, confiança e otimismo são valores subjacentes nas personagens do livro. É natural, ao ler as obras de Tolkien, como tantas outras de igual qualidade, que nos identifiquemos com este ou aquele personagem, neste ou naquele momento da nossa vida. Isso é o que acontece também com O Hobbit: é um retrato típico do inglês de classe média, acostumado com suas rotinas e aconchegante mundo caseiro e laboral, que, de vez em quando, foge dos eixos. E Tolkien, ao conceber os hobbits, via neles a si próprio. E podemos nos ver a nós.

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