postado em 16/12/2012 18:09
Duas exposições inauguradas na última semana no Museu do Cárcere, na Ilha Grande, onde funcionou o Instituto Penal Candido Mendes, presídio de segurança máxima, implodido em 1994, têm entre as principais peças do acervo, itens recolhidos dos escombros por moradores, guardadas ao longo de anos por herdeiros ou antigos funcionários da instituição.
Remontada para incluir esse material, a exibição permanente 100 Anos de Presídio e nova mostra Comida e Cárcere, apresentam cordas utilizadas na fuga de detentos, utensílios de cozinha, objetos transformados em armas e ferramentas. Mas os itens mais preciosos são documentos relacionados à rotina da unidade prisional e à formação da organização criminosa Comando Vermelho.
;O comando nasce aqui, nos anos 1970. Os presos políticos estavam em maior número e formavam um coletivo. Os outros presos perceberam que a organização deles defendia seus direitos, a sua integridade física, e passaram a fazer o mesmo. Depois exportaram o modelo para fora;, explica o diretor do Museu do Cárcere, que é vinculado a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o historiador Gelson Rozentino.
Entre os documentos expostos estão cartas assinadas com o lema do Comando Vermelho ;Paz, Justiça e Liberdade;, datilografado ao lado do nome dos lideres. Durante anos foram interceptadas comunicações dos internos que pediam para os integrantes de fora do presídio ajuda para comprar televisões e utensílios de cozinha. Pediam também dinheiro para festa de Natal.
;Eu doei muita coisa: cartas, fotos, material estoque [armas, como facas], um livro de ata dos presos, muita coisa, porque fui chefe de segurança de 1989 e 1993 e tinha muita coisa;, revela o ex-carcereiro Getúlio Cantuária.
Outros documentos dão conta da rotina da cozinha do presídio, incluindo cardápios que deveriam ser servido aos presos, como bacalhau com purê de batata baroa. Os pesquisadores juram que não chegaram ao prato de ninguém. Estes foram resgatados dos escombros em 2002 e ajudam a entender porque a instalação era chamada de "Caldeirão do Diabo".
De olho nos atos administrativos do presídio, a socióloga Myrian Sepúlveda dos Santos, que há 10 anos estuda a violência nas instalações carcerárias de Ilha Grande, afirma que, intencionalmente, para encobrir o Estado, muita coisa se perdeu na implosão do prédio.
;Quando essas instituições são implodidas, o desejo do Estado é que elas fiquem apagadas da memória e aqui a comunidade teve um papel importantíssimo, de resgatar objetos e não permitir que essa memória fosse apagada;, disse Myrian, diretora do museu até 2009.
Em posse de moradores ainda estão documentos que podem interessar ao museu. A própria Myrian relata acesso a papéis guardados com ex-carcereiros sobre fugas, perseguições e assassinatos que viraram lenda na Ilha Grande. Myrian pretende revelar parte desse acerto no próximo livro, que se seguirá ao ;Porões da República- A barbaria nas prisões de Ilha Grande-1894 e 1945;.
;Eu ainda tenho umas coisas, papeis dos presos, que quero mostrar para a professora Myrian;, revela o ex-carcereiro Hotair da Silva , que edita um jornalzinho com memórias minuciosas do tempo de carcereiro, com detalhes que podem ser preciosos.
Recolhidos no local, as peças e documentos ajudam a compor ainda a reserva técnica do Museu do Cárcere. A expectativa é ampliar as mostras. ;Temos também cama, banheira da casa de funcionários da vila (de poucas casas no entorno) e sabemos que, quando a gente, com um trabalho arqueológico, conseguir mexer nos escombros, vamos achar mais coisas ainda;, disse Rozentino.
Os documentos estão sendo levadas para o Arquivo Público do estado, segundo o diretor do museu. A falta de estrutura no local, mesmo reformado, por causa do calor, deteriora as peças. A ideia é também facilitar a consulta por mais especialistas.
Quem quiser conhecer as ruínas do presídio precisa encarar 11 quilômetros de caminhada ou chegar de barco em Vila Dois Rios. O local recebe, em média, 500 visitantes por mês, que chegam a quadriplicar no verão. A peculiaridade é poder entrar em traje de banho.
Remontada para incluir esse material, a exibição permanente 100 Anos de Presídio e nova mostra Comida e Cárcere, apresentam cordas utilizadas na fuga de detentos, utensílios de cozinha, objetos transformados em armas e ferramentas. Mas os itens mais preciosos são documentos relacionados à rotina da unidade prisional e à formação da organização criminosa Comando Vermelho.
;O comando nasce aqui, nos anos 1970. Os presos políticos estavam em maior número e formavam um coletivo. Os outros presos perceberam que a organização deles defendia seus direitos, a sua integridade física, e passaram a fazer o mesmo. Depois exportaram o modelo para fora;, explica o diretor do Museu do Cárcere, que é vinculado a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o historiador Gelson Rozentino.
Entre os documentos expostos estão cartas assinadas com o lema do Comando Vermelho ;Paz, Justiça e Liberdade;, datilografado ao lado do nome dos lideres. Durante anos foram interceptadas comunicações dos internos que pediam para os integrantes de fora do presídio ajuda para comprar televisões e utensílios de cozinha. Pediam também dinheiro para festa de Natal.
;Eu doei muita coisa: cartas, fotos, material estoque [armas, como facas], um livro de ata dos presos, muita coisa, porque fui chefe de segurança de 1989 e 1993 e tinha muita coisa;, revela o ex-carcereiro Getúlio Cantuária.
Outros documentos dão conta da rotina da cozinha do presídio, incluindo cardápios que deveriam ser servido aos presos, como bacalhau com purê de batata baroa. Os pesquisadores juram que não chegaram ao prato de ninguém. Estes foram resgatados dos escombros em 2002 e ajudam a entender porque a instalação era chamada de "Caldeirão do Diabo".
De olho nos atos administrativos do presídio, a socióloga Myrian Sepúlveda dos Santos, que há 10 anos estuda a violência nas instalações carcerárias de Ilha Grande, afirma que, intencionalmente, para encobrir o Estado, muita coisa se perdeu na implosão do prédio.
;Quando essas instituições são implodidas, o desejo do Estado é que elas fiquem apagadas da memória e aqui a comunidade teve um papel importantíssimo, de resgatar objetos e não permitir que essa memória fosse apagada;, disse Myrian, diretora do museu até 2009.
Em posse de moradores ainda estão documentos que podem interessar ao museu. A própria Myrian relata acesso a papéis guardados com ex-carcereiros sobre fugas, perseguições e assassinatos que viraram lenda na Ilha Grande. Myrian pretende revelar parte desse acerto no próximo livro, que se seguirá ao ;Porões da República- A barbaria nas prisões de Ilha Grande-1894 e 1945;.
;Eu ainda tenho umas coisas, papeis dos presos, que quero mostrar para a professora Myrian;, revela o ex-carcereiro Hotair da Silva , que edita um jornalzinho com memórias minuciosas do tempo de carcereiro, com detalhes que podem ser preciosos.
Recolhidos no local, as peças e documentos ajudam a compor ainda a reserva técnica do Museu do Cárcere. A expectativa é ampliar as mostras. ;Temos também cama, banheira da casa de funcionários da vila (de poucas casas no entorno) e sabemos que, quando a gente, com um trabalho arqueológico, conseguir mexer nos escombros, vamos achar mais coisas ainda;, disse Rozentino.
Os documentos estão sendo levadas para o Arquivo Público do estado, segundo o diretor do museu. A falta de estrutura no local, mesmo reformado, por causa do calor, deteriora as peças. A ideia é também facilitar a consulta por mais especialistas.
Quem quiser conhecer as ruínas do presídio precisa encarar 11 quilômetros de caminhada ou chegar de barco em Vila Dois Rios. O local recebe, em média, 500 visitantes por mês, que chegam a quadriplicar no verão. A peculiaridade é poder entrar em traje de banho.