postado em 22/12/2012 10:55
;A vida é uma vela acesa ao vento; é um dos conselhos que dona Eva de Castro costuma dizer com frequência à filha Ellen Oléria, cantora brasiliense que venceu o reality show The voice Brasil. Depois de uma semana tumultuada, com poucas horas de sono, muitos compromissos e a aproximação de um resfriado que insiste em incomodar, Ellen falou ao Correio, com exclusividade, sobre a sua trajetória e contou que muitos projetos estão encaminhados, como um novo CD totalmente autoral e mais dançante do que o anterior, A peça. As novas músicas vieram a partir de um ;surto criativo; em 2011. Está encaminhada também a pós-produção de um álbum do Soatá, projeto paralelo que Ellen une rock, soul e funk a ritmos amazônicos como, o carimbó. Vêm por aí ainda um documentário oriundo do Soatá e um disco em formato voz e violão.O que veio primeiro: as artes cênicas ou a música?
Quando somos crianças, nós fazemos das artes a nossa forma de expressão. Antes de aprendermos um idioma, a gente aprende a cantar. Fazemos cena sem sermos ensinados e, aos poucos, vamos descobrindo o que é necessário fazer para acontecer determinada coisa. Aí vem um choro inventado ou uma mentira para esconder uma arte, uma cena. As artes são o nosso encontro com a sociedade, uma forma de nos expressarmos e nos colocarmos diante das forças de poder. Sempre estive envolvida pela música e pela cena como um todo.
Como o teatro auxilia você nos palcos?
Tive uma grande mestra no teatro, Silvia Davini (morta em agosto de 2011). Ela costumava dizer que as coisas que a gente faz marcam o nosso corpo. A minha passagem no teatro e, em especial, o meu encontro com ela e com o coletivo, em que a gente trabalhou junto, o Teatro Acústico, que é a construção de espaços cênicos a partir do som no ambiente,me ensinaram muito. Trago essas marcas em mim. Penso a música antes de ela se transformar numa massa sonora cujas palavras não têm mais importância. Faço um estudo como se elas fossem um mapa, o que é importante dizer, o que precisa aparecer mais, qual é a palavra-chave. Não sabia que conseguiria fazer isso de uma forma tão intensa, aprendi muito neste último ano.
Como foi sua experiência com Hugo Rodas?
Tem uma coisa que nunca me esqueço dele. Quando abria os braços em uma cena, falava o que eu tinha pra dizer e depois voltava os braços para o longo do corpo, ele dizia para eu não voltar para o ponto morto. Ele falava: ;Mantém! Mantém;. Isso eu trago comigo também. Não volto ao ponto morto. Cheguei, agora eu mantenho. Hugo é uma figura sem igual, eu nunca encontrei uma pessoa que dominasse tanto todas as dimensões da cena. Ele sabe qual é o percentual de luz para determinado refletor, sabe o que está acontecendo com os atores e trata a gente como uma massa de significação no palco. Uma figura fantástica e gostaria que ele dirigisse um show meu. Seria muito fera. Já cheguei a falar isso e ele topou na hora, já começou a falar (ela imita o sotaque carregado do diretor uruguaio): ;Começamos com um solo de bateria;. Aí, ele já começou a bolar.