Severino Francisco
postado em 02/01/2013 08:05
O choro, tido como um gênero carioca da gema, está muito mais próximo da música nordestina do que se possa imaginar. Vira e mexe, a primeira canção nordestina de Luiz Gonzaga, que alcançou sucesso, registrada pelo autor no gênero xamego, era, na verdade, um choro matuto. Esse capítulo pouco conhecido da história da música popular brasileira é passado a limpo no livro Luiz Gonzaga ; Tem sanfona no choro (Instituto Moreira Salles), organizado pelo músico e pesquisador Marcelo Caldi, que reúne 23 partituras de choros de autoria do Rei do Baião para sanfona e um CD com 13 composições. Uma verdadeira preciosidade para os instrumentistas cultores do gênero.Acompanhemos a narrativa de Fernando Gasparini para o livro. Gonzaga comeu o pão que o diabo amassou até se tornar o Rei do Baião. Em março de 1939, ele desembarcou no Rio de Janeiro, aos 26 anos, com a determinação de esquecer a música ouvida nos pés de serra de Pernambuco e se dissimular ao máximo de carioca. Se esmerava em tocar os sucessos reinantes nas emissoras de rádio: valsas, canções românticas, tangos, blues, fox trotes e sambas. Ao deixar Recife, um amigo o aconselhou a tentar a sorte nas ruas do antigo Mangue, zona de prostituição do Rio de Janeiro, com intenso fluxo de passantes. Lá, na melhor tradição dos nordestinos viradores, ele recolhia gorjetas, depois de desfiar canções de sucesso na sanfona.