Nahima Maciel
postado em 15/01/2013 07:40
Quando esteve no Brasil para conferir os locais programados para receber a sua primeira exposição individual, o artista chinês Cai Guo-Qiang ;esbarrou; no carnaval. Não chegava a ser uma manifestação totalmente estranha ; radicado em Nova York desde 1995, ele já viu muita coisa ;, mas marcou. Os ensaios das escolas de samba que visitou no Rio de Janeiro vão servir de fonte para a criação de uma série de desenhos com pólvora a serem realizados em Brasília na próxima semana. Qiang desembarca no Planalto Central para conceber, montar e inaugurar a primeira exposição no país. Com caráter retrospectivo, Da Vincis do povo vai ocupar os espaços do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Museu Nacional dos Correios com instalações que resumem a trajetória do artista e incluem os famosos desenhos realizados com pólvora e explosões.
O Da Vinci do título vem de dois fascínios. Inspirado nas invenções de Leonardo da Vinci e na criatividade chinesa, Qiang pediu a camponeses do país natal que criassem objetos para utilizar nas instalações. O artista queria falar do contraste entre a cidade e o campo e valorizar a produção artesanal de uma categoria à qual a China pouco presta atenção. ;Em 2010, as ondas migratórias movimentaram 200 milhões de trabalhadores na China. Agora, o número ultrapassa 250 milhões, ainda que eles sejam uma minoria silenciosa. Com a exposição, queria mostrar que camponeses, assim como qualquer pessoa no planeta, têm aspirações e esperança assim como desejo de desafiar a gravidade de suas circunstâncias;, explica. Qiang atribui boa parte do crescimento chinês atual à força de trabalho barata vinda do campo para as megalópoles. Mas há também algo de filosofia e religião na postura do artista.
Capacidade de criar
Quando menino na província chinesa de Fujian, ele ia ao templo taoísta levado pelas mãos da mãe e da avó. O taoísmo prega que é preciso aceitar a vida como ela é, esvaziar a mente dos desejos e apreciar o que existe. A capacidade de criar seria uma consequência desse exercício. Talvez por isso as palavras criatividade e desconhecido sejam tão frequentes no discurso de Qiang. ;Da Vinci é um exemplo da exploração humana de mundos desconhecidos. Suas produções são mais científicas que as dos camponeses, mas estes últimos são mais artísticos do que Leonardo. Estou prestando homenagem a esses inventores empreendedores.;