Fafá de Belém já correu muitos riscos na definição de repertório. Nos anos 1980, mergulhou fundo nas canções despudoradamente românticas (para alguns, ;bregas;); interpretou o Hino Nacional Brasileiro numa época em que ele só era entoado coletivamente em cerimônias oficiais; cantou música sertaneja, guarânia, lambada, ritmos caribenhos; gravou hinos religiosos; aproveitou a popularidade alcançada em Portugal para lançar um disco de fados com sotaque brasileiro; Tanta liberdade não saiu barato.
;Fui alvo de tantas críticas que, se eu parasse para ouvi-las, estaria paralisada;, diz Fafá, antes de dar uma daquelas sonoras gargalhadas. ;Há criticas e há o preconceito. As primeiras, eu leio; o segundo, eu abomino e sigo em frente. Tem gente que idealiza o que quer do outro e, se não for dessa forma, não te aceita... Eu tenho mais o que fazer a ouvir gente chata e limitada;, sentencia a artista, que sobreviveu a todas as críticas e hoje soma 36 anos como uma das mais notáveis intérpretes da música brasileira.
Um dos motivos para a manutenção do prestígio é, certamente, a base sólida da carreira, iniciada oficialmente em 1976 com o LP Tamba tajá. Esse início é recuperado em parte com a caixa de três discos recém-lançada pela Universal Music ; detentora do acervo da Polygram, primeira gravadora da artista. Três tons de Fafá de Belém reúne os álbuns Água ((1977), Banho de cheiro (1978) e Estrela radiante (1979). O box seria mais completo se trouxesse também o citado Tamba tajá, mas, mesmo assim, o conteúdo é bastante para mostrar a Fafá que, provavelmente, o público mais jovem não conhece.