Janeiro de 1990. A aposentada Wilma Faccio Gonçalves Guiscem estava em casa, em Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando recebeu o telefonema do irmão Mauro, que morava no Rio: ;Minha irmã, vamos passar nosso aniversário juntos, já que o meu é dia 18 e o seu 19. Pode comprar o bolo que eu pago;, brincou.
A festa reuniu todo o clã Faccio Gonçalves, incluindo os 11 irmãos e a matriarca, dona Virgínia. ;Foi um encontro bem animado e a última vez que o vi com vida;, lembra Wilma, hoje com 75 anos.
Mauro Faccio Gonçalves era o mais velho dos irmãos e se estivesse vivo estaria completando 79 anos nesta sexta-feira, 18. Para quem não conseguiu identificar pelo nome, o primogênito dos Gonçalves ficou conhecido como o eterno trapalhão Zacarias, ou Zacaria, como gostava de ser chamado.
Já pensando nas comemorações dos 80 anos do ator, locutor e humorista mineiro, no ano que vem, a família, os amigos e a Prefeitura de Sete Lagoas, onde ele nasceu, começam a se mobilizar para não deixar a data passar em branco.
;Desde que ele morreu, há 23 anos, prometem várias coisas, como museu e comenda Zacarias. Mas as coisas nunca saíram do papel. Tem muito pouca coisa na cidade. A gente ainda espera algum reconhecimento, porque ele merece;, defende outra irmã, Marly Faccio Gonçalves Diniz, de 68 anos.
A nova administração do município, que assumiu há 20 dias, revela que uma das propostas para a área cultural é o tão sonhado Memorial Zacarias. O secretário de Cultura de Sete Lagoas, Márcio Vicente, conta que apesar de ainda não ter definido nada com os familiares, a intenção é concluir o projeto. ;O Zacarias é o embaixador da cidade até hoje. Temos o desejo de fazer um memorial à altura dele e da cultura brasileira. É um compromisso não só da prefeitura, mas de toda a sociedade sete-lagoana. Acho que devemos isso a ele;, defende.
Márcio diz que há alguns anos chegou-se a esboçar uma planta para a iniciativa, mas que não foi para a frente e que entre as propostas em estudo estão a criação de um festival de cinema ou teatro homenageando Mauro e a confecção de uma nova placa para ser instalada no anfiteatro (a placa original foi roubada) que leva o nome do artista. O espaço foi inaugurado em 1988, com a presença de Zacarias, e fica localizado no Centro Cultural Nhô-Quim Drumond, conhecido como Casarão.
É lá também que funciona o memorial improvisado de Zacarias. Numa pequena sala está uma parte do acervo do artista, doada pela família e pela TV Globo, com roupas de uso particular e cênico, retratos, reportagens, discos, as certidões de nascimento e de óbito e até as famosas perucas do personagem. ;Ainda temos mais coisas guardadas, mas não cabem aqui. Essa sala não é o espaço ideal, mas é para que a imagem dele não seja esquecida. As pessoas ainda têm um grande carinho pelo Mauro. Os pais costumam trazer seus filhos para que lembrem um pouco do ídolo da infância. Apesar de ele não ser a celebridade de Sete Lagoas mais em evidência no momento, como a Paula Fernandes ou o Franck Caldeira, o Zacarias é inesquecível;, afirma o diretor do Casarão, Leandro Lupiano.