Um acaso fez a artista carioca Anna Bella Geiger juntar uma concha comprada há anos em uma loja de quinquilharias em Paris e um delicado mapa-mundi gravado em chumbo. Os dois objetos habitam o universo poético de Anna Bella há décadas. Uma gaveta lotada de bugigangas aparentemente sem utilidade é uma das mais preciosas do ateliê. Além de dezenas de conchas, ali também há pedras, moedas e outras coisinhas catadas aqui e ali. Já a cartografia é praticamente uma obsessão desde os primeiros trabalhos. Anna Bella gosta de mapear, de construir um mundo no qual impera uma certa geopoética muito própria da artista, mas também muito acessível ao público. Certo dia, ela deixou um desses mapinhas escorregar para dentro da gaveta. Qual não foi a surpresa quando a pequenina folha de chumbo foi parar exatamente dentro da concha francesa.
O acaso rendeu a série Sobre nácar, confeccionada no início do século 20, e ficou por anos em uma escala minúscula, que cabe na palma da mão, até o também artista Wagner Barja sugerir que Anna Bella estourasse o tamanho do objeto para uma escultura em larga escala. Aos 79 anos e com a mente mais fresca e ousada que nunca, a artista topou. Mais ainda, aceitou levar o projeto até o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro João Oreste Dalazen, e propor que obra integrasse o espaço externo do prédio projetado por Oscar Niemeyer. A surpresa veio rápido demais para os planos de Anna Bella: o ministro topou e, em seis meses, Sobre nácar, justiça, capital e trabalho ocupa um simpático espelho d;água especialmente concebido para receber a escultura, uma concha em aço de 6,5 x 4 metros que se abre na frente do lado côncavo da curva do prédio.