Severino Francisco
postado em 13/02/2013 06:38
Em 1996, sentenciado pelos médicos como paciente de câncer em estado terminal, Darcy Ribeiro resolveu fugir do hospital onde estava internado no Rio de Janeiro e se refugiou, na sua casa, em Maricá, permanecendo sob os cuidados de um enfermeiro. Não perdeu o senso de humor, comeu gostosamente uma feijoada; escreveu, sofregamente, O povo brasileiro, e pediu uma casa digna para guardar o seu acervo na UnB, a universidade que idealizou e criou com sua sagacidade.Em sintonia com o seu desejo, o arquiteto e amigo Lelé Filgueiras lhe concedeu mais do que sonhara: imaginou uma espécie de síntese entre um disco voador e uma maloca dos índios Xavantes com a dos Kamayurás. A nave espacial-maloca está pousada próximo à Reitoria da Unb e ganhou um livro, em esmerada edição de arte, para celebrar a sua história: Beijódromo (Ed. UnB).
É uma história permeada de lances dramáticos, poéticos, líricos e engraçados. Darcy não desejava um espaço vetusto; queria um centro de pesquisas em estilo informal, uma arena aberta para o céu, onde os estudantes pudessem se beijar. Darcy convidou o amigo Lelé Filgueiras, a quem considerava o segundo maior arquiteto do universo. Não chamou o primeiro, Oscar Niemeyer, pois sabia que ele não era afeito a aceitar opiniões sobre seus projetos: "Lelé, meu irmão. Tenho na cabeça e no coração o nosso Beijódromo, e estou aflito", escreveu Darcy, em uma das cartas a Lelé, pois o projeto esbarrou na má vontade e na inércia burocrática.