Ricardo Daehn
postado em 24/02/2013 08:00
Há cinco dias, o jogo já foi definido pelas cédulas de quase 6 mil votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Hoje à noite, a famosa abertura dos envelopes saciará a internacional curiosidade de moradores de 225 países. Cabeça a cabeça, os mais fortes títulos na disputa, Lincoln e Argo (em vantagem), tratam de reproduzir ideais libertários norte-americanos, baseados em episódios históricos. Respectivamente, trazem 12 e sete indicações, um estancando o sistema escravagista e o outro abalando sisudez de velho oponente do american way of life, o Irã. Na mesma linha aguerrida, A hora mais escura, em torno da operação militar que matou Osama bin Laden, traz o fel das incertezas contemporâneas, e capitalizou relativo veto (pelas minguadas indicações) à ala mais transformadora do cinema (leia-se Kathryn Bigelow, acompanhada por Quentin Tarantino e Ben Affleck).
Comprometidos com o interesse estrangeiro, os votantes do 85; edição do Oscar construíram um painel que acolhe ecletismo e projeta mensagem de pacifismo multicultural (ainda que na escala individual, em As aventuras de Pi, dono de 11 indicações). Nesse mesmo pacote de estímulo ao alternativo, correm por fora na disputa (mas, por nada, ignorados) filmes como o austríaco Amor ; enrijecido olhar do diretor Michael Haneke em torno da dependência, emocional e física, na terceira idade, e Indomável sonhadora, candidato na cota indie sempre disposta na lista dos prêmios.
Atenta à representação do vigor cinematográfico, o Oscar, porém, não ficou indiferente a produtos em amplo contato com o público descolado, afagando entre os nove candidatos ao posto de melhor filme, tanto os dramáticos quanto cômicos O lado bom da vida e Django livre. Nessa linha de aceitação, sacramentada pela venda (no teatro) de 60 milhões de ingressos, a adaptação do musical Os miseráveis vem qualificada para a disputa, com oito indicações.