Ricardo Daehn
postado em 24/02/2013 08:16
A diversidade chegou à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A seleção de filmes para a competição de 2013 deixou exalar o apreço pela variedade de temas. De acordo com as novas regras, poderiam ser indicados 10 títulos na categoria principal, mas os membros optaram por escolher apenas nove. O western Django livre, o holístico As aventuras de Pi, o indie Indomável sonhadora, a fita bipolar O lado bom da vida e o musical Os miseráveis dão mostras da disposição da Academia em escolher filmes diferentes entre si.
Aproximações políticas podem ser construídas entre dois títulos separados no tempo e no espaço, a biografia histórica Lincoln e A hora mais escura. O grande número de indicações recebidas por Amor, do austríaco Michael Haneke, deixa no ar a impressão de vitória em pelo menos uma das delas: a de filme estrangeiro, em que também concorre. Mas a premiação de melhor filme, tem como favorito o thriller Argo.
Em meio a cartas quase marcadas ; como a do Oscar de ator para Daniel Day-Lewis (Lincoln) e o de fotografia para o chileno Claudio Miranda (As aventuras de Pi) ;, há muito espaço para friozinho na barriga dos concorrentes. Entre os dados históricos deste ano, houve reconhecimento para a mais nova e a mais idosa das atrizes ; pela ordem, Quvenzhané Wallis (Indomável sonhadora) e Emmanuelle Riva, à frente de Amor. O burburinho é o de que somente Jennifer Lawrence (O lado bom da vida) terá cacife para desbancar Riva. Já a disputa entre atores coadjuvantes, a mais difícil de ser decifrada e com alto teor emocional, alinha os veteranos Alan Arkin, Robert De Niro, Tommy Lee Jones e Phillip Seymour Hoffman ao também premiado Christoph Waltz (Django livre).
Melhor filme
Argo
Só a eclosão de uma guerra nuclear pode tirar o Oscar de melhor filme do diretor Ben Affleck. O filme passou o rodo nas premiações dos sindicatos, o Producers Guild Awards (PGA), o Screen Actors Guild Awards (SAGs) e o Directors Guild of America (DGA), termômetros do Oscar.
Django livre
O propalado faroeste de Quentin Tarantino demorou 10 anos para ficar pronto, da concepção ao lançamento. Levou o troféu de roteiro original no Globo de Ouro e pode levar a estatueta na mesma categoria hoje.
As aventuras de Pi
Depois de um hiato de cinco anos, Ang Lee retoma a direção com um filme metafísico, baseado no livro A vida de Pi, de Ian Martel. Os animais criados em computação gráfica ocuparam boa parte das atenções, mas não são o único atrativo da fita.
Lincoln
O novo filme de Steven Spielberg era favorito na disputa do Oscar até a ascensão de Argo. Spielberg recria um retrato fiel da América dividida pela Guerra de Secessão e pela decisão de abolir a escravatura. Muitos encontram paralelos entre o estilo de governar do 16; presidente dos EUA, Abraham Lincoln, e o atual, Barack Obama.
A hora mais escura
Mais uma vez, Kathryn Bigelow empenha-se em apresentar um quadro desalentador sobre a atuação militar norte-americana em países estrangeiros. A narrativa, dividida entre a investigação do paradeiro de Osama bin Laden e sua captura, é feita de tintas realistas e padrão desafiador. Bigelow ficou de fora da competição entre diretores.
Indomável sonhadora
Vencedor em Sundance, este filme independente talvez seja o título concorrente com mais reflexões narrativas. A história da garota pobre em Nova Orleans trafega pelo realismo fantástico e pelo romance realista, dentro do estilo cinematográfico indie. Além disso, reserva momentos de fofura na atuação da atriz-mirim Quvenzhané Wallis.
Amor
O austríaco Michael Haneke deixou cinéfilos confusos com este título sobre o mais nobre sentimento humano. Quem acompanha a carreira do polêmico diretor, conhecido pelas narrativas sobre violência, não entendeu a guinada centrada na história de um casal de idosos. Pode não levar o prêmio principal, mas é forte candidato à estatueta de melhor filme estrangeiro.
O lado bom da vida
O filme de David O. Russel é uma homenagem ao filho do diretor, que sofre do mesmo mal do protagonista, o bipolar Pat (Bradley Cooper). Baseado em livro de Matthew Quick, emplacou representantes em todos as categorias de atuação.
Os miseráveis
A obra do francês Victor Hugo foi vertida em musical dirigido por Tom Hooper. A França pré-revolucionária é um espaço para injustiças sociais, descaso e corrupção. A decisão de Hooper em executar todas as canções no set de filmagem deixou as canções mais orgânicas do que em outros filmes do mesmo gênero.
Melhor ator
Bradley Cooper - O lado bom da vida
Aos 38 anos, o boa-pinta, que já levou o Framboesa de pior ator (por Maluca paixão), saiu do chão com a série Se beber, não case! e, pela lembrança no alternativo título de David O. Russell, já deve se dar mais do que por satisfeito. Apesar do prêmio para Jean Dujardin, na comédia O artista, no ano passado, a Academia sempre se revela bem sisuda quando há elemento de graça num personagem. Outro aspecto negativo está no fato de ser a primeira indicação.
Daniel Day-Lewis - Lincoln
Ele é daquelas unanimidades, mas com inteligência. Mesmo num filme sem energia (com tremenda morosidade no desenvolvimento), a cada gesto, o ator corporifica a integridade do 16; presidente dos Estados Unidos. Além de vitorioso no Globo de Ouro, no Bafta e na agremiação oficial dos atores (SAG), o talentoso irlandês tem credencias anteriores no Oscar, por Meu pé esquerdo e Sangue negro. Se vencer, será o único com três estatuetas principais.
Denzel Washington - O voo
A indicação diz muito sobre o talento do ator, já que o filme só foi lembrado noutra categoria (roteiro original). Numa escala de emoções crescente, Denzel oferece um papel suculento ; redentor e imperfeito ; aos olhos de muitos votantes da Academia que são atores. Na sexta indicação (ele detém duas estatuetas), o artista parece ter deixado a marca, ao ter reaberto, com a distância de quase 40 anos em relação a Sidney Poitier, as portas para a premiação de um ator negro, em 2002.
Hugh Jackman - Os miseráveis
Numa primeira indicação, defendendo um reverenciado personagem da literatura francesa clássica, o eterno Wolverine ganhou o respeito dos colegas. O australiano solta a voz e as emoções, na medida, em Os miseráveis. Conta a favor dele o prêmio de melhor ator em musical no Globo de Ouro. Mas, há 48 anos um ator de musical não leva o Oscar. Na condição de astro, antes de qualquer prêmio, Jackman conta mais é com fã-clubes de X-Men.
Joaquin Phoenix - O mestre
Ele tem currículo passível de bullying por parte dos votantes ; já demonstrou má vontade para com a festa, teve seu momento de surto na vida real e enveredou para a carreira de rapper ;, mas Joaquin traz consigo um talento na medida de ouro. Na poltrona à espera pelo Oscar desde 2001, a impressionante performance de Phoenix (na tela, um sugestionado alcoólatra) não descarta chance de prêmio. O filme, porém, teve fraco desempenho em termos de indicação.
Melhor atriz
Emmanuelle Riva - Amor
Há mais de 50 anos, a atriz francesa ajudou a redefinir parâmetros para o cinema, a partir de Hiroshima, meu amor. É notória, porém, a tendência de a Academia preterir Riva em favor da estrela que tem disparado Jennifer Lawrence. Para além do rigoroso desempenho, Riva conta com a admiração do Oscar pelas francesas (Marion Cotillard, Simone Signoret, Claudette Colbert, todas premiadas) e com inclinação emocional dos votantes (ela fará 86 anos, em plena festa).
Jennifer Lawrence - O lado bom da vida
Não haveria o menor contra-senso em premiar uma jovem (que seria a segunda mais nova, de todos os tempos) com intensa pegada para servir à indústria, um dos focos da premiação no Oscar. Ela já ganhou prêmios de críticos, o Globo de Ouro e o Screen Actors Guild (SAG), mas foi barrada, no Bafta, por Emmanuelle Riva. Jennifer ; que ilumina a tela com uma vitalidade revigorante para o personagem central de O lado bom da vida ; está em momento de colheita, bem popular, por Jogos vorazes e X-Men.
Jessica Chastain - A hora mais escura
A serventia de uma premiação para esta atriz ; em franca ascensão, e indicada, no ano passado, como coadjuvante por Histórias cruzadas ; poderia sinalizar uma vingança da ala descontente com a fraca representatividade do polêmico filme comandado por Kathryn Bigelow. Na tela, Chastain abraça personagem definido pelo trabalho (a exemplo de premiados tipos de Meryl Streep, Helen Mirren, Sally Field e Faye Dunaway). Nem de longe, Jessica Chastain tem perfil de azarão.
Naomi Watts - O impossível
Beleza e delicadeza glaciais acompanham a personagem mais admirável do filme em torno do esfacelamento de um ninho familiar atingido pelos efeitos do tsunami. Com cenas comoventes, Watts não cai na tentação de agigantar uma personagem da vida real, na qual a trama é baseada. Com a carreira consolidada, aos 44 anos, Naomi (antes, indicada por 21 gramas) não obteve vitórias dignas de menção para O impossível, além de estar num filme pouco assistido.
Quvenzhané Wallis - Indomável sonhadora
Maior surpresa na lista, a menina de nome impronunciável tinha 6 anos quando estrelou um drama de cores fortes bastante calcado no crescimento de sua personagem. Completamente à margem do circuito de premiações que pavimenta uma sinalização de Oscar, Quvenzhané tem chances muito limitadas de vitória. O filme está desgastado, com exposição desde janeiro de 2012, e a atriz amadora pode brindar o fato de ter quebrado barreiras, sendo a mais jovem criança na disputa.
ATOR COADJUVANTE
Alan Arkin - Argo
Aos 78 anos, o ator obteve um reconhecimento tardio, com a vitória, há seis anos, pelo amalucado vovô de A pequena Miss Sunshine. Na quarta indicação, tenta o replay como o irônico produtor de um filme fictício.
Christoph Waltz - Django livre
O maior demérito na performance é a carga de semelhança com o já premiado tipo composto por ele, com maneirismo, em Bastardos inglórios. Porém, pesam a favor sucessos tanto no Globo de Ouro quanto no Bafta.
Robert De Niro - O lado bom da vida
Resgatado de uma maré de mediocridade, este ícone do inventivo cinema dos anos 1970 teve a última indicação há 20 anos. Venceu, sim, mas já faz três décadas, por O touro indomável. A faixa etária dos votantes, testemunhas dos êxitos de De Niro, favorece.
Phillip Seymour Hoffman - O mestre
Em cena, ele é um colosso, na esnobada fita de Paul Thomas Anderson. Mas as chances de Phillip ; o demente guru de O mestre ; estão escassas, pelo rendimento no ciclo de prêmios (dividiu o título de melhor ator com Joaquin Phoenix em Veneza).
Tommy Lee Jones - Lincoln
Na categoria mais indecifrável do ano, ninguém pode ignorar o bom trânsito do ator, que venceu por O fugitivo e chega à terceira tentativa de levar um Oscar. No páreo, especialmente, por causa da vitória no Screen Actors Guild.
ATRIZ COADJUVANTE
Amy Adams -O mestre
Com 38 anos, Adams é veterana em cerimônias do Oscar. Concorreu em quatro como atriz coadjuvante e nunca levou. Aparece envelhecida no papel da esposa do líder de uma seita. O longa de Paul Thomas Anderson foi injustamente esquecido na disputa por melhor filme.
Sally Field - Lincoln
O papel de primeira-dama dos EUA rendeu a segunda indicação de Sally como atriz coadjuvante. Se perder hoje, ela tem como consolo dois Oscars como atriz, como protagonista de Norma Rae (1979) e de Um lugar no coração (1984).
Anne Hathaway - Os miseráveis
A participação de Hathaway no musical é feita de sofrimento e dor. Para fazer o papel da prostituta Fantine, a atriz emagreceu e raspou o cabelo. O esforço rendeu o ponto mais alto de todo o filme na interpretação de I dreamed a dream, cantada aos prantos por Anne.
Helen Hunt - As sessões
Helen Hunt foi revelada na série televisiva Mad about you, foi consagrada pelo Oscar de melhor atriz por Melhor é impossível, em 1997, e desapareceu. Está de volta como a terapeuta com ideias, digamos, progressistas.
Jacki Weaver -O lado bom da vida
A australiana já era azarão da disputa em 2011, por Reino animal, e volta a concorrer, ainda que inspirando poucas chances, como a matriarca Dolores, dividida entre um marido obsessivo e um filho bipolar.
OUTROS INDICADOS
Diretor
Ang Lee (As aventuras de Pi)
Steven Spielberg (Lincoln)
Michael Haneke (Amor)
David O. Russell (O lado bom da vida)
Benh Zeitlin (Indomável sonhadora)
Roteiro
A hora mais escura
Django livre
Amor
Moonrise kingdom
O voo
Roteiro adaptado
Argo
Indomável sonhadora
As aventuras de Pi
Lincoln
O lado bom da vida
Longa de animação Valente
Frankenweenie
Detona Ralph
ParaNorman
Piratas pirados!