Teerã - Para a mídia iraniana, o Oscar de melhor filme a "Argo", longa-metragem de Ben Affleck que fala sobre a crise dos reféns americanos de 1979, teve um fundo político, e a aparição da primeira-dama americana Michelle Obama, que anunciou o prêmio, também foi alvo de críticas.
[SAIBAMAIS]A 85; cerimônia do Oscar, que aconteceu neste último domingo (24/2), foi "a mais política de todos os tempos;, avaliou a televisão estatal iraniana, evocando a vitória de "Argo".
O apresentador do canal iraniano acusou Ben Affleck, diretor e ator principal do filme, de ter se especializado no "exagero", criticando-o de "aumentar as coisas de tamanho e criar cenas falsas".
Explorando alguns aspectos da realidade, o filme retoma a complicada retirada pela CIA de seis diplomatas americanos refugiados na embaixada do Canadá em Teerã. Para deixar o país, os reféns se passaram por membros da produção de um filme de ficção científica.
Os diplomatas conseguiram deixar a embaixada americana por uma porta arrombada no dia 4 de novembro de 1979 quando estudantes islamistas fizeram 52 pessoas reféns, que só foram liberadas 444 dias depois.
"Argo" levou diversos prêmios ao redor do mundo.
A grande surpresa da noite do Oscar ficou por conta da primeira-dama americana Michelle Obama, que abriu o envelope e anunciou o filme vencedor diretamente da Casa Branca. Para a televisão iraniana, esta intervenção "reforça as dúvidas que a recompensa do filme tinha motivos políticos".
Para a agência Fars, afiliada à Guarda Revolucionária do Irã, força de elite do exército, "Argo" é um filme "anti-iraniano", financiado "por uma empresa sionista", em alusão ao estúdio da Califórnia Warner Bros.
Michelle Obama de ombros cobertos
A agência Fars também criticou a primeira-dama americana e seu vestido de lamê que deixava os braços à mostra, seus ombros e uma parte do colo, o que seria proibido na República Islâmica, onde o código de vestimenta é rigoroso para as mulheres. A foto publicada pela agência parece ter sido modificada, já que o retrato mostra Michelle Obama de ombros cobertos.
Na última quarta-feira (20/2) o guia supremo iraniano, o aiatolá Khamenei, já tinha acusado Hollywood de ser uma máquina "totalmente política" destinada a propagar a mensagem de Washington. "Hollywood é totalmente política. Se não fosse, teria deixado nosso filme antissionista participar dos festivais de cinema", afirmou o aiatolá em seu site oficial (khamenei.ir). "Fazer filmes políticos anti-iranianos e recompensá-los é um sinal claro que política e arte se misturam nos Estados Unidos", disse o guia supremo, em alusão a "Argo".
Em 2007, a epopeia hollywoodiana "300", que conta a história das guerras greco-persas, apresentando os persas como sanguinários, despertou a cólera dos iranianos.
As relações entre Hollywood e Irã pareciam ter aquecido no ano passado quando o filme iraniano "Separação" levou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
No plano político, Irã e Estados Unidos não têm mais relações diplomáticas desde a crise dos reféns. As tensões permanecem com o programa nuclear iraniano, suspeito pelos países ocidentais de ter um viés militar apesar das negativas de Teerã.