O caso da dissociação entre o Oscar de filme e de direção, em bom hiato na cerimônia, não causa surpresa, mesmo porque Ben Affleck (do vitorioso Argo) estava fora da competição. Sobrou então para o taiwanês Ang Lee (de As aventuras de Pi), que foi para um bicampeonato, sete anos depois de vencer por O segredo de Brokeback mountain. Voltando à matriz da serenidade, num assunto espinhoso ; a exemplo do que fez com a atração entre dois cowboys, ícones da cultura norte-americana ;, Lee optou pelo mesmo tom, ao fazer interseção entre crenças cristãs, muçulmanas e outras linhas de espiritualidade. ;Esse filme é realmente internacional;, disse na ocasião de agradecimento à Academia. Já, nos bastidores da festa, ele complementou: ;A gramática do cinema está muito estabelecida nos Estados Unidos. Aqui há sofisticação, e o cinema, pra mim, é basicamente visão e som, além da capacidade de superação;.
Não que tivesse tanto a debelar, em termos de barreira para política de boa vizinhança junto aos mais de seis mil votantes do prêmio. A carreira dele, que beira os 60 anos, é feita de ótimo currículo no Oscar. Ang é o estrangeiro com maior número de indicações (10) para uma fita de origem não inglesa, com o ganhador de melhor filme estrangeiro O tigre e o dragão (2001). Além disso, tem longo histórico na premiação, com duas indicações consecutivas de melhor filme estrangeiro, com O banquete de casamento (1994) e Comer beber viver. Além disso, com Razão e sensibilidade (1997), baseado em livro de Jane Austin, concorreu a sete categorias, incluindo melhor filme.
Na mescla de valores religiosos e filosóficos, As aventuras de Pi ; em meio a filmes violentos como Django livre, A hora mais escura e Argo (cheio de tensão psicológica) ; conseguiu o feito de ótima performance: levou também prêmios de trilha sonora, direção de fotografia e efeitos visuais. Baseado em escritos de Yann Martel, com formação francófona, a produção teve locações em Taiwan, na Índia e no Canadá. O caráter de fusão cultural foi igualmente comentado pelo diretor, nos bastidores. ;É como se uma cultura estivesse de um lado do cérebro e a outra, no oposto. Você pode usar os dois lados, e isso é uma vantagem;, explicou.