A infância está guardada em um local seguro e confortável na memória do poeta Wilson Pereira. Nesse lugar mora um menino crescido em fazenda, soltinho e travesso, feliz da vida, um garoto que o poeta resolveu moldar em forma de versos. Reflexos do tempo, que tem lançamento marcado para hoje no restaurante Vila Madá (Deck Norte), nasceu de uma parceria com o fotógrafo Antonio Nepomuceno e propõe uma visita cheia de ternura a um passado de contornos familiares aos dois autores. Napoleão também é menino de fazenda, de porteira larga e horizontes a perder de vista. ;Escrevo muito sobre a infância;, avisa Pereira, mineiro de Coromandel ,e autor de uma vasta bibliografia de literatura infantojuvenil. ;Até os 12 anos vivi na fazenda e esse período ficou muito marcado na lembrança.;
As perdas do pai e de um irmão ainda em tenra idade fizeram Pereira constatar muito cedo a efemeridade da vida e a presença incontornável da morte. Mais tarde, o poeta entenderia por que o francês Paul Valéry insistia na ideia de que a ;infância é a pátria da poesia;. ;A infância é uma recorrência entre os poetas e tenho isso muito forte em mim: um menino que, de certa forma, não cresceu, mas não é um Michael Jackson ou um Peter Pan. É um menino que sobrevive no homem, um menino que luta contra o tempo para permanecer na memória do homem.;
Leia poemas de Reflexos do tempo
Os versos
Além
Por esta terra
não voltas a passar
acabou-se a estrada,
há uma estrela sobre o mar:
nada
ou tens de voar.
Tantos
Eu fui tantos
que a vida esqueceu
muitos de mim
em mins
que ainda sou eu
Pelas ruas do passado
O meu menino
vai-me fugindo
com seu passinho
apressado
pelas ruas antigas
do passado.
Filho da mãe!
Um dia
Eu sempre acordava cedo
para brincar.
Um dia meus brinquedos
se esqueceram
e não foram me acordar.
Levantei um pouco mais tarde
e fui trabalhar.