Vencedor de prêmios como o Jabuti, APCA e Casa de las Américas e organizador de importantes coletâneas de contos de autores gays e de mulheres, o escritor Luiz Ruffato não ficou surpreso com os resultados da pesquisa. ;Esse levantamento só vem confirmar o que vejo: quem escreve no Brasil são homens heterossexuais de classe média e brancos. Não é por outro motivo, por exemplo, que os personagens são escritores. É gente de classe média escrevendo para classe média;, aponta Ruffato. O que preocupa o autor de Mamma, son tanto felice é o caminho que leva aos resultados compilados por Regina Dalcastagn;. ;A literatura que se faz hoje (no Brasil) é um reflexo transparente do que é nosso país: existe uma classe média que não tem nenhuma relação com o resto do país;, lamenta.
Ruffato lembra que tanto Europa quanto Estados Unidos têm hoje uma literatura feita por descendentes de imigrantes, negros ou representantes de minorias cuja representatividade é consistente graças ao acesso à educação. No Brasil, a realidade é outra. ;São filhos de operários ou de classe média baixa que conquistaram um nível de educação suficiente para se tornarem escritores. Aqui isso é impossível. A educação no Brasil é absolutamente excludente. Dificilmente um filho de classe média baixa vai ascender socialmente em uma universidade boa para ter um repertório suficiente para se tornar escritor. Logo, 90% do que é Brasil não aparece na literatura brasileira porque não tem quem represente essa paisagem;, constata o escritor.