Censurada em 1973, a versão original de ;Como vovó já dizia (Óculos escuros);, de Raul Seixas (1945;1989), mais conhecida pela verso ;quem não tem colírio usa óculos escuro;, é destaque no repertório de ;Geração da luz;, o primeiro disco solo da DJ Vivi Seixas, de 31 anos, filha do cantor e compositor. ;Na época, meu pai teve de mudar a letra para poder gravar a canção;, conta a filha, admitindo que o lendário roqueiro baiano ficaria feliz com a iniciativa dela.
Depois de perambular pelas gravadoras que tiveram Raul em seu cast, Vivi teve acesso a uma série de fitas originais, nas quais o pai registrou alguns de seus clássicos a capela. Agora finalmente ela teve oportunidade de trabalhar todas, remixando e regravando o material com a ajuda de músicos como Arnaldo Brandão (baixo e guitarra), Donatinho (teclados) e Plínio Profeta (baixo, guitarra e theremin), com quem divide a produção do CD, ao lado de Mike Frugaletti.
Ainda atual
;Agradar a todos é impossível;, consola-se Vivi, reagindo às críticas ao disco, que já começam a rolar nas redes sociais. ;Há fãs de meu pai que não aceitam a música eletrônica, há os meus fãs e os do meio, que já gostam;, justifica a artista, cuja estreia fonográfica ocorre nove anos depois da estreia profissional como DJ. ;Comecei, na verdade, em 2004;, recorda Vivi Seixas, que dois anos depois já tinha o registro da profissão. Na opinião de Vivi, depois de perceber que ela não era cantora, mas DJ, os fãs começam a entender o trabalho dela.
A demora em gravar, diz, se deve a seu desejo de consolidar a carreira de DJ, ser respeitada na cena. ;Queria separar as coisas, ser boa no que faço;, justifica a moça, que conquistou vários prêmios e ficou em terceiro lugar na categoria de Melhor DJ Feminino de House, do DJ Sound Awards, promovido pela revista ;DJ Sound;.
Segundo Vivi, a letra da música que dá título ao CD, ;Geração da luz;, foi feita pelo pai em parceria com a mãe, Kika Seixas, para incentivar as novas gerações. ;Eu já ultrapassei a barreira do som/ Fiz o que pude às vezes fora do tom/ Mas a semente que eu ajudei a plantar já nasceu!!”, dizem os versos da canção. Na abertura do disco, o próprio Raul saúda os jovens, em discurso à maneira originalíssima dele.
Mas, afinal, o que o remix acrescenta à música de Raul? ;A música de meu pai é que acrescenta à eletrônica;, diz Vivi Seixas, para quem a música eletrônica não passa mensagem. ;As letras de meu pai por si só já trazem mensagem, além de ser atemporais. Nem parece que ele morreu há 20 anos. As músicas de Raul podem até ser antigas, mas as letras são atuais;, defende a filha.
O lançamento oficial de ;Geração da luz; será dia 10, na Galeria Café, Ipanema, no Rio de Janeiro. A turnê nacional ainda está sendo avaliada pela DJ, que pretende incorporar os músicos que participaram da gravação. ;Tenho de ver a disponibilidade do Donatinho e do Arnaldo Brandão;, diz, admitindo que provavelmente eles possam viajar apenas em ocasiões especiais.
Em espanhol
A versão de ;Metamorfose ambulante; em espanhol é outro destaque do disco de Vivi Seixas, que incluiu também no repertório ;Rock das aranhas;, ;Mosca na sopa;, ;Só pra variar; e ;Conversa pra boi dormir;, entre outras. Clássico dos clássicos de Raulzito, a gravação de ;Gita; à capela se perdeu nos arquivos das gravadoras. Mas Vivi Seixas diz que tem repertório para um segundo volume. Além de Vivi, Raul Seixas teve mais duas filhas: Scarlet Vaquer Seixas e Simone Andrea Vannoy.
Palavra de mãe
;Profissionalmente, a Vivian cresceu e amadureceu enormemente nos últimos sete anos como DJ de música eletrônica. Eu trabalhei diretamente com ela e pude observar como Vivian é extremamente pontual e profissional. Agora, com o lançamento do CD, fiquei mais segura ainda em relação ao profissionalismo dela. Vivian conseguiu modernizar a obra do pai, respeitando a identidade da música original de Raul Seixas. Para mim isto é a prova mais contundente do profissionalismo dela.;, KIKA SEIXAS, mãe de Vivi Seixas.