A fronteira entre loucura e sociabilidade sempre piscou nas telas do cinema. O comportamento assasino escondido por uma conduta aparentemente normal fascina pela complexidade com a qual os dois opostos convivem no mesmo ser: de Norman Bates no clássico Psicose, de Alfred Hitchcock, o frio serial killer assassino de garotas bonitas, a Anton Chirugh, interpretado por Javier Bardem em Onde os fracos não têm vez, matador sem receio de tirar a vida de quem aparece pela frente. Nunca houve, no entanto, um serial killer como Hannibal Lecter. E tampouco um intérprete do personagem como Anthony Hopkins.
A inteligência do personagem inspirado nos romances de Thomas Harris enclausura a audiência e quase arranca simpatia pelo significado criado em torno dos crimes praticados. A morte se torna detalhe do propósito evocado para provocá-la. Enquanto elimina as vítimas, torna-se vital para os próprios investigadores. O psicopata canibal volta à TV na série Hannibal (estreia nesta terça-feira (16/4) no canal AXN).
Já explorado à exaustão pelo cinema, o personagem tem fôlego para continuar a saga. Ainda é cedo para dizer ; nos EUA só foram exibidos os dois primeiros episódios dos 13 previstos ;, mas o personagem-título, pelo menos por ora, não traz empatia com o público ; ao contrário do Hannibal de O silêncio dos inocentes.
A narrativa é inspirada no primeiro dos quatro romances de Harris, Dragão vermelho ; já levado ao cinema, inclusive em uma primeira versão, de 1986, com Brian Cox no papel de Lecter. Mostra o início do envolvimento do psiquiatra canibal com Will Graham, brilhante. O último é que conduz o episódio. Ex-detetive e hoje professor, Graham é nada sociável (sofre de um tipo de autismo), mas consegue como ninguém se colocar no lugar dos criminosos, decifrando os mistérios com rapidez. É chamado por Jack Crawford, chefe da Unidade de Ciência Comportamental do FBI, para ajudar a descobrir quem é o assassino de uma série de jovens. Hannibal aparece no meio do episódio, como uma espécie de mentor de Graham.
[SAIBAMAIS]A série é produzida por Bryan Fuller (de Dead like me e Pushing daisies, que misturam humor e fantasia) e o episódio de estreia, Aperitivo, é dirigido por David Slade (A saga crepúsculo: eclipse).
O dinamarquês Mads Mikkelsen, com seu rosto super anguloso, não precisa se esforçar muito para parecer maligno. Hannibal mais insinua do que mostra. Em mais de uma cena o psiquiatra canibal saboreia bons nacos de carne. Noutra, maldosamente, divide seu café da manhã com o inocente Graham (ovos mexidos adivinha com o quê?), enquanto conversam sobre análise comportamental e assuntos nada digeríveis. Para o telespectador, a expectativa do banquete, pois o aperitivo deixa a desejar.
O canibal
Hannibal Lecter é obra do escritor e roteirista norte-americano Thomas Harris, que publicou quatro livros com o personagem: Dragão vermelho (1981), O silêncio dos inocentes (1988), Hannibal (1999) e Hannibal, a origem do mal (2006), todos editados no Brasil e adaptados para o cinema. A origem da história tenta explicar por que o psiquiatra se torna canibal. Nascido na Lituânia, ex-república soviética, é filho de um conde lituano e uma mulher da alta burguesia italiana. Durante a 2; Guerra Mundial, a família de Lecter é vítima dos nazistas. Só Hannibal e sua irmã, Mischa, sobrevivem. Acabam se envolvendo com os hiwis, lituanos que se unem aos nazistas e, num inverno rigoroso, matam Mischa para depois comê-la.
Serviço
Hannibal estreia nesta terça-feira (16/4), às 22h, no canal AXN. A série é a primeira no Brasil a oferecer um aplicativo de segunda tela (second screen) que possibilita ao telespectador acesso a conteúdo extra e interação com redes sociais. O app poderá ser baixado gratuitamente pelo iTunes.