Diversão e Arte

Filme retrata o universo desencantado do escritor Caio Fernando Abreu

O longa "Sobre sete ondas verdes espumantes" é a atração de sábado e domingo no festival de documentários "É Tudo Verdade"

Ricardo Daehn
postado em 19/04/2013 08:00

O longa

"A pele é intransponível", registra um dos queixumes do artista que pretendia romper fronteiras de nítido isolamento. Caio Fernando Abreu, entre uma Clarice Lispector (um modelo) de calças e uma Hilda Hilst ponderada (na contramão do possível), provavelmente, diria que os diretores Bruno Polidoro e Cacá Nazario o representam. Fundindo barreiras, na mescla de temas como solidão e transbordamento (de amores e melancolia), em Sobre sete ondas verdes espumantes, os cineastas bem elaboram uma subjetividade sensorial, sob medida para o trovador do "amor sem nojo nem medo".

[SAIBAMAIS]Sem valorar o destino, Caio F. queria saber dos caminhos, do percurso, tal qual aponta a amiga Maria Adelaide Amaral. Bússola certeira para que os diretores perfaçam trilha avessa à sensação de acolhimento, de "cama quente e fofa", nas palavras do poeta. Contrastando o caráter irrisório (para o escritor) do rural e ainda o peso opressor da cidade grande, os artistas capturam a voz de Caio, dissoluto pela vivência plural no exterior. Alma complexa para ser impressa em película, Caio afunda em contradições como a dose de horror, frente a tópicos como o da "beleza insuportável da coisa inteiramente viva".



Entre cliques do fotógrafo Alair Gomes e descrições explícitas ("duas lanças uma apontando para a outra"), componente fálico não passa despercebido no filme. Um equívoco porém apostar que a luxúria se impregne na trama. Há dorsos esculturais e músculos pulsantes, por traz de estrofes fílmicas. Mas a redução e o estigma seriam caminhos empobrecedores. É preciso estar atento (diante de detalhes quase imperceptíveis, bem ao gosto do autor pelos "vestígios do impossível") e fraco (acompanhando o espanto de Caio frente ao corpo humano "frágil e perecível"). Para os não entendidos resta o magistral consolo da prece de Caio F: "Sorri, Deus, e abençoa a nossa amorosa miséria atarantada".

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