;O que nos interessava era fazer um filme poético. A gente viajou e arriscou. Em termos de linguagem, não optamos pelo tradicional. Concentramos mais na obra do Caio Fernando Abreu, apesar de as cartas dele entregarem traços mais íntimos. Na literatura epistolar, está a polêmica persona dele;, observa Cacá Nazario, codiretor (ao lado de Bruno Polidoro) do longa . Fita inédita na cidade, a ser exibida amanhã e domingo no festival É Tudo Verdade (no CCBB), encerra conceito de road movie. ;Caio tinha uma ânsia muito grande pelo deslocamento;, justifica o diretor. Nessa ânsia, o escritor ; ;que buscava o espírito do poeta cubano Reinaldo Arenas, em Saint-Nazaire; ; estacionou na tal cidade francesa, custeado por bolsa, em 1992, quando criou a novela Bem longe de Marienbad, suscitada na estruturação do documentário.
Um homem (o autor) que busca outro, com leopardo tatuado no corpo (a base dos escritos), para Cacá Nazario, ;está um tanto à procura dele mesmo;. Mas, não é fácil cercar o autor que detestava o rótulo de literatura gay, mesmo com galeria de tipos associados a homoerotismo. ;Ele tinha essa coisa meio Madonna de não deixar a gente acreditar em tudo. Havia ainda a estrutura psicológica meio bipolar. Caio ia da euforia à extrema depressão. Ele incorporava um pouco das divas americanas dos anos 1940;, comenta o diretor. Cacá conheceu Caio, também criador de peças, nos anos 1980, época em que fez teatro na UFRGS, pela amizade em comum com o diretor Luciano Alabarse, participante do longa e que bem conhecia o ;voo cego; do amigo entregue à ;busca áspera; (a vida tortuosa), ante o ;excesso de fome;.