Quando olha para a América Latina, o artista uruguaio Gustavo Alamón aciona um alarme interno. Ele não gosta do rumo que a sociedade latino-americana anda tomando nos últimos tempos, especialmente quando se trata de copiar hábitos do norte. O desenvolvimento da região é um fato, mas seu custo é caro para o espírito humano. O consumismo bestializa o homem e o afasta da única capacidade capaz de diferi-lo de outros bichos: a habilidade de raciocinar. Com isso em mente, fica difícil olhar para as pinturas dos robôs em cartaz na Caixa Cultural sem certo temor. Em cartaz até 19 de maio, a exposição Os robôs de Alamón reúne 30 obras nas quais o artista uruguaio reflete sobre a automação do homem e seu comportamento num tempo pautado pela velocidade, pelo excesso de informação e pelo consumo como máquina que faz girar a economia.
As preocupações de Alamón não estão voltadas apenas para a sociedade. A arte também, ele acredita, sofre do mesmo mal. ;Quando mostrei essas pinturas na Bienal de São Paulo (em 1983), um crítico me disse que a arte europeia era marcada pelo temor e medo da guerra, e a arte latino-americana se preocupava com o homem;, conta o artista que, aos 78 anos é persistente na tentativa de desenhar uma obra crítica em relação à sociedade latino-americana. ;Estamos sempre olhando para a Europa para ver o que podemos fazer aqui, mas acho que temos um laboratório humano suficiente para explorar e poder dizer as coisas que nos inquietam como seres humanos.;