Para amar alguém há de haver um desrespeito sadio. Como, por exemplo, ligar de madrugada. Roubar um pedaço da sobremesa. Promover até uma seresta, afinal os desafinados também têm um coração. Todas essas provas são de amor na ;era rolleiflex;: analógico, mas sempre atual. Nos tempos dos encontros à luz de telas, nada mudou radicalmente, informa Isabela, criadora e cupido do Spotted UnB. A página no Facebook publica flertes anônimos, aos moldes de um correio elegante. Em menos de um mês, já reúne mais de 12 mil pessoas dispostas a declarar seus sentimentos na rede, com base na lábia da escrita virtual.
Cânones da literatura servem de conselheiros na hora de empregar uma boa cantada. Entre os mais citados: Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Hilda Hilst. ;E você não sabe quantos sorrisos eu já dei só de pensar em você;, ajuda Caio Fernando Abreu, em um dos torpedos. A gratidão vem em seguida. ;O cara que mandei um spotted me adicionou no Facebook, já nos encontramos pessoalmente e ele é incrível, um cavalheiro de primeira;, relata uma das 250 mensagens diárias que Isabela recebe na caixa de entrada. Atualmente, ela é a pessoa mais bem informada sobre fofocas da universidade. O código de ética não permite revelar maiores dados. Nem os dos missiveiros, nem os dela: ;Não posso falar curso, sobrenome ou idade;.
Para os mais adaptados às ferramentas de linguagem virtual, a escolha de uma risada, entre outros aspectos, flagra características do interlocutor. ;É comum o estabelecimento de padrões. Hahaha costuma ser a graça pura. Hehehe contém uma pitada de escárnio. Hihihi denota timidez. E kkkkkk pode se tratar da sua tia conectada;, arrisca a designer Luísa Borges, que se declara especialista em conversação no Gtalk. Risos.