Sete dias e 62 sessões de cinema. E não se trata de um cardápio de filmes descartáveis: na quarta edição, o Festival Varilux de Cinema Francês ; integrado por 15 fitas das mais recentes e inéditas (no Brasil) produções ; ocupa dois templos (Espaço Itaú e Cine Cultura), na resistência para o cinema alternativo, sem indiscriminado apego à mera renda de bilheteria. A ação, disseminada em outras 45 cidades do país, demonstra um certo privilégio para enfoques cômicos (caso de Aconteceu em Saint-Tropez, Feito gente grande e A datilógrafa). Em expansão, o circuito de interlocução entre França e Brasil, por meio da sétima arte, garante a projeção de estrelas incontestes, como Jeanne Moreau (Uma dama em Paris) e Miou-Miou (no thriller Prenda-me), atrizes respeitáveis do porte de Marion Cotillard (no dramático Ferrugem e osso, de Jacques Audiard) e queridinhos do público como Romain Duris e Bérénice Béjot (ambos em A datilógrafa). Abaixo, alguns dos títulos de maior destaque.
Renoir (2012)
Aos 86 anos, o monumental Michel Bouquet (de A sereia do Mississippi) dá vida ao pintor Auguste Renoir, no filme selecionado para a mostra Um certo olhar, do Festival de Cannes. ;O que eu amo é a pele;, diz o personagem ancião que, entre preocupações com os filhos (combatentes na Primeira Guerra), segue apegado à produção de quadros ;agradáveis e alegres;, na Riviera Francesa de 1915. Se ;a pintura de Renoir dá vontade de comer;, como diz um dos personagens, o criador da célebre Banhistas ; já em cadeira de rodas ; se alimenta de formas da natureza, entre as quais a da jovial Andrée (Christa Theret), um de seus modelos vivos. Similar ao clássico A bela intrigante (1991), de Jacques Rivette, mas com moderação na dose sensual, o filme enfoca não apenas o espírito criador, mas dilemas paralelos à vida de Renoir. ;Hoje em dia, simplifico;, ele teima em dizer, mas a vida nem sempre está sob controle, bastando lembrar um dado: um dos filhos dele viria a ser ninguém menos do que o renomado cineasta Jean Renoir.
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*** Hoje, às 16h35, no Espaço Itaú
Os sabores do palácio (2012)
;O cozinheiro é um artista, não um contador;, decreta a chefe de cozinha Hortense Laborie (Catherine Frot), na trama livremente baseada na vida de Dani;le Delpeuch. No Palácio do Eliseu ; a residência oficial do presidente da França ;, Hortense tem a mais gloriosa das posições, sendo responsável pelo cardápio do presidente (Jean d;Ormesson). Sinônimo de pratos de acabamento impecável e de sinestesia completa, em frente à tela do cinema. Sem a simpatia de uma Julia Child (personificada por Meryl Streep, nas telas, há quatro anos), a cozinheira vai viver uma ;virada de página;, com a ida para a Base de Alfred Faure (em região do arquipélogo de Crozet, dominado pelo governo francês, na Antártida). Administrando dois tempos, o diretor Christian Vincent emplaca um estudo sobre o perfeccionismo e a devoção de uma profissional que suplanta desavenças e restrições, impondo uma presença marcante e irrepreensível . Obrigatório e uma referência para quem se interessa por gastronomia.
*** Hoje, às 13h30, no Cine Cultura e amanhã, às 15h30, no Espaço Itaú.
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