Diversão e Arte

Viva, a obra do dramaturgo Dias Gomes é legado que resiste ao tempo

Ainda neste semestre, a TV Globo reedita Saramandaia, a novela assentada no realismo fantástico sul-americano, que alegrou um triste Brasil de 1976

Especial para o Correio
postado em 18/05/2013 14:28
A madrugada de 18 de maio de 1999 foi cruel com a dramaturgia nacional. Um acidente brutal interrompeu a escrita de um homem que estava na linha de frente de uma geração que abrasileirou peças, novelas e filmes. Tinha 76 anos quando teve a vida engolfada por uma estúpida imprudência de trânsito. No choque mortal com o ônibus, perdeu-se a genialidade de Dias Gomes, cuja escrita de traço universal ainda pulsa e reverbera. Ainda neste semestre, a TV Globo remonta um dos maiores sucessos: Saramandaia, a novela assentada no realismo fantástico sul-americano, que alegrou um triste Brasil de 1976. Em plena ditadura militar, o espectador arregalou os olhos para testemunhar João Gibão voar, livre como um pássaro fora da gaiola, sobre uma cidade dominada por coronéis, que lançavam formigas pelas narinas. Parecia um sonho, como, aliás, foi movida a trajetória desse autor sem fronteiras de linguagem.

; Consigo pilotar meu barco ao sabor dos ventos, mas sei que há muito mar pela frente. Talvez nunca chegue ao porto. Tomara mesmo que não, pois o melhor da viagem é estar nela ; escreveu Dias Gomes na autobiografia Apenas um subversivo, publicada um ano antes da morte.

Dias Gomes era um menino quando chegou ao Rio de Janeiro num esquisito tempo de entre guerras. Cresceu num o país vigiado pela ditadura getulista. Ali, em 1942, a cabeça fervilhava de ideias, algumas politicamente perigosas para a época. Mesmo sem querer pegar em armas, o rapazote corria riscos. Queria fazer teatro. Não sabia ainda que a dramaturgia seria a munição para o incômodo que estaria por vir. Dias Gomes se tornaria um dos mais censurados autores do país.



Nesse ano incerto de 1942, o jovem andava pelo burburinho cultural da Cinelândia e sonhava em ter o nome estampado nos letreiros luminosos. Um dia, respirou fundo e entregou textos para duas figuras míticas da cena nacional: os rivais Jayme Costa e Procópio Ferreira. Os dois ainda trabalhavam como se fossem vedetes tradicionais. Não participavam de ensaios diários, só apareciam às vésperas das estreias para aprender as marcas espaciais do palco e não compreendiam o texto como um todo, dependendo do tradicional ponto, aquele profissional que soprava o texto da coxia.

Ainda neste semestre, a TV Globo reedita Saramandaia, a novela assentada no realismo fantástico sul-americano, que alegrou um triste Brasil de 1976

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